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Dezembro é um mês especial no calendário ocidental, pois é um tempo de confraternização, troca de presentes, árvores e enfeites natalinos nas casas e centros comerciais. É uma época da figura constante do velho Noel que alimenta o imaginário infantil na recompensa pelo bom comportamento durante o ano. É um tempo de peru e panetone na ceia com familiares e amigos. Um momento de cumprimentos e saudações entre as pessoas. “Feliz Natal e um Próspero Ano Novo”, é expressão bastante ouvida no encontro e despedida de pessoas até mesmo desconhecidas. Amizades desfeitas são reatadas, parentes distantes se aproximam e perdões são pedidos e atendidos na esperança de um novo tempo que se aproxima para todos. Mas, diante disso pergunta-se: O que foi realmente o nascimento de Cristo? O porquê do 25 de dezembro? O que tantas cores, luzes e enfeites tem a ver com a encarnação de Jesus? E quais as principais verdades que as pessoas deveriam aprender com esse acontecimento ocorrido há mais de 2 mil anos naquela manjedoura em Belém? São essas e outras perguntas que iremos responder nesse artigo cujo enfoque maior será nos conceitos do relato bíblico e histórico como fonte primária sobre Jesus. Infelizmente em nossos dias essas verdades passam despercebidas pela mídia e pelas pessoas, inclusive pelos cristãos. É fato que nem todas as expressões religiosas dentro do cristianismo celebram o natal. As Testemunhas de Jeová, por exemplo, são contra a celebração natalina. Ao tornar-me protestante aos 14 anos cresci numa denominação evangélica, hoje centenária, que em sua trajetória não comemorava o natal, mas atualmente celebra-o até com enfeites natalinos dentro o templo. Ao contrário do catolicismo, no protestantismo existem divergências sobre a validade bíblica se o cristão deve ou não comemorar o nascimento de Cristo. Embora eu nunca celebrei o natal não vejo razão para discórdias entre cristãos por causa disso. O historiador cearense, Jeovah Mendes, chegou a dizer que o verdadeiro cristão não comemora o natal. Bem, alguém pode ser um cristão verdadeiro e ainda assim celebrar o natal. Até porque para ser um cristão verdadeiro existem outras razões bíblicas muito além da comemoração natalina. Nosso objetivo aqui é expor as 20 verdades sobre a história do nascimento de Cristo que geralmente não se comentam e nem atentam para sua devida importância, seja no mês de dezembro ou ainda no restante do ano. Assim como na páscoa omite-se a realidade e apresenta-se a ficção do coelhinho e do ovo, no natal prefere-se enfatizar a lenda do papai Noel e suas renas em lugar da realidade do nascimento do filho de Deus. É um exemplo de como uma cultura anticristã utiliza-se de elementos cristãos para negar sua historicidade e reduzi-los a mitos populares.  

1ª VERDADE: A PRIMEIRA VEZ QUE SE MENCIONA A VINDA DO SALVADOR AO MUNDO A ÊNFASE DA ESCRITURA ESTÁ NA MORTE E NÃO NO NASCIMENTO; ESTÁ NA EXPIAÇÃO DA CULPA E NÃO NA CELEBRAÇÃO NATALÍCIA.

E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gênesis 3:15)

O texto de Gênesis é comumente chamado de protoevangelho, ou seja, o primeiro anúncio das boas novas de salvação e esperança ao homem caído. O pronunciamento da sentença divina é feito após a queda de Adão e Eva. O termo queda na teologia, apesar de parecer algo acidental, refere-se a rebelião voluntária do primeiro casal em desobedecer os princípios do Criador no jardim do Éden. A inimizade é entre a serpente e sua semente (o mal representado pela serpente e seus seguidores) e a mulher e sua semente (o bem na promessa de Deus descendendo da mulher). Aqui o mal seria ferido pelo descendente da mulher na cabeça, uma ferida mortal e de derrota final, enquanto isso o feridor também seria ferido no calcanhar, uma terrível dor e sofrimento de sua humanidade. É impossível não associar esse texto com a crucificação de Jesus. Essa é a primeira referência bíblica sobre a vinda de Jesus em carne e a ênfase está justamente na sua morte expiatória no lugar de pecadores. A encarnação está clara pois ele é chamado de “semente da mulher”, portanto um nascimento sem participação do sexo masculino. Seria semente apenas de mulher e não de homem, mesmo que a mulher tenha pecado primeiro. Pela mulher entra o pecado no mundo e da mulher Deus tira o salvador do mundo. Na promessa da mulher e sua semente ao casal Adão e Eva lá estava Maria e nas dores de parto de Maria lá estava a sentença dada a Eva. A ferida no calcanhar é simplesmente uma expressão para uma morte dolorosa, assim como um animal foi morto para providenciar as peles para cobrir Adão e Eva. Era o princípio de substituição. Após o pecado, Adão e Eva envergonharam-se um do outro cobrindo-se com folhas de figueira e esconderam-se de Deus ao ouvir sua voz no jardim. Depois dos juízos e a esperança de Gn 3.15 as folhas de figueiras são substituídas pelas peles de um animal. Era uma maneira de dizer claramente que o homem não tem condições de cobrir sua maldade pelos seus próprios meios. E Deus em sua bondade e justiça requer uma morte substitutiva para justificar o homem do mal que praticou. Ainda hoje homens usam meras “folhas de figueira” na tentativa vã de salvar-se a si mesmos. Mas como o ser humano finito pode justificar-se ante um Deus infinito? É necessário, portanto que a providência venha do próprio Deus e não do homem. Santo Agostinho já dizia: “Deus exige o que quiseres, mas proveja o que tu exiges”. E foi assim que aconteceu no Éden. Deus não apenas exigiu obediência, ele proveu tudo o que exigiu. E dessa forma a “semente” prometida no Éden, nascida em Belém, feriu frontalmente o mal e isso custou-lhe sua vida em dolorosas feridas na cruz.

2ª VERDADE: A CHEGADA DE CRISTO SE DEU NUM ESTÁGIO APROPRIADO DA HISTÓRIA HUMANA PARA QUE TODOS OS HOMENS CONHECESSEM A BONDADE DE DEUS.

“Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.” Gálatas 4.4

A expressão “plenitude dos tempos” em Gálatas 4.4 significa que Jesus nasceu no momento determinado por Deus e quando tudo estava historicamente preparado, pois o texto diz que “vindo a plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho, nascido de mulher...”  É interessante percebermos como estava as condições históricas do mundo no primeiro século para receber o Messias. Primeiro, Jesus nasceu após o cativeiro dos judeus em Babilônia por Nabucodonosor, ou seja, os judeus espalhados pelo mundo propagaram a esperança da chegada do Messias. No livro de Atos se diz que em cada cidade havia uma sinagoga(escola judaica) “Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue e, cada sábado, é lido nas sinagogas.” (Atos 15:21). Os magos vieram de longe para adorar Jesus em seu nascimento, certamente porque a mensagem sobre a vinda do filho de Deus, do rei de Israel, estava espalhada nos mais distantes rincões do mundo de então. Segundo, quando Jesus nasceu Alexandre, o Grande, filho de Filipe II, rei da Macedônia, estreitara os costumes e língua grega aos demais povos com sua política helenizante contribuindo assim para a expansão do cristianismo. Nessa espécie de globalização da época a língua grega tornou-se um idioma internacional, quebrando barreiras linguísticas e tornando a mensagem do cristianismo acessível para todos os povos. Basta lembrar que os livros do NT foram escritos no grego simples ao alcance das pessoas comuns. Terceiro, Jesus nasceu no período da chamada Pax Romana, uma paz imposta pela força onde toda a região mediterrânea havia sido conquistada por Roma. Era um tempo de relativa paz, e isso facilitou bastante para o ministério público de Jesus. E no meio dessas conquistas os romanos investiram muito em estradas, dando acessos aos cantos mais longínquos, ao ponto de surgir o velho adágio: todos os caminhos levam a Roma. E essas estradas foram muito importante para a difusão do evangelho. Então Jesus chegou quando o palco da história estava preparado para receber o maior mensageiro e mensagem do mundo. Até um decreto de César Augusto para cumprimento de profecia sem o conhecimento do imperador, forçou o casal José e Maria a se dirigem até sua cidade natal - Belém, um pequeno povoado, cujo significado é “casa do pão”, onde nasceu aquele que mais tarde iria dizer: “Eu sou o pão da vida”.

3ª VERDADE: A VINDA DE CRISTO NÃO É APENAS UM NASCIMENTO, É ANTES DE TUDO, UMA ENCARNAÇÃO E DESSA FORMA A COMEMORAÇÃO DO SEU ANIVERSÁRIO NÃO TEM SEMELHANÇA NA HISTÓRIA DO MUNDO

No princípio era o Verbo,  e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus ( Jo 1.1). E o Verbo se fez carne... ( Jo 1.14)

Os termos encarnação e reencarnação são parecidos mas totalmente diferentes em significado. A reencarnação é uma crença em que a alma, após a morte passa para outro corpo. E dependendo da ramificação espírita pode ser em alguma pessoa ou animal. Já a encarnação que é o conceito que nos interessa aqui é a doutrina cristã da união das duas naturezas humana e divina de Jesus Cristo o que em teologia chamamos de União Hipostática. Em palavras simples é resumida pela seguinte frase: “Jesus, permanecendo o que era, tornou-se o que não era.” Significa que ao nascer Jesus não deixou de ser Deus, ou seja não houve diminuição de sua divindade, mas por outro lado aconteceu um acréscimo de humanidade e por isso tornou-se o que até então ele não era – humano. O apostolo João fala primeiro do “Verbo que era Deus” e depois do “Verbo que se fez carne”. No primeiro caso o apóstolo fala de sua eternidade e no segundo de sua entrada na história humana como “verbo encarnado”, já que seu nascimento foi virginal, gerado pelo Espírito Santo sem participação masculina e sem pecado herdado. Mas a diferença entre Ele e nós vai além disso. Todos nascemos e contamos nossos dias de existência a partir do dia do nosso nascimento e por isso é a data de nosso aniversário. Mas isso porque somos um ser e temos uma natureza enquanto Cristo é um ser com duas naturezas. Entramos no mundo como seres existentes sem nenhuma pré-existência, mas no caso de Cristo ele já existia plena e completamente desde a eternidade e por isso não existe paralelos na história do mundo em comemorar o aniversário de quem sempre existiu. Alguém poderá alegar que o aniversário refere-se a natureza humana e não a divina, mas ao falarmos de Jesus, embora distingamos os atributos de cada natureza, referimo-nos a ele como pessoa. Exemplo, sabe-se que Jesus morreu e isso é uma experiência de sua natureza humana e não divina, mas nem por isso digo que a natureza humana de Cristo morreu, digo sim que a pessoa de Cristo morreu. E o mesmo pode-se dizer de seu nascimento e sem essa visão a ideia de aniversário de Cristo passa a mensagem errada de nascimento sem a correta compreensão da doutrina da encarnação.

4ª VERDADE: A NAÇÃO QUE DEU O SALVADOR PARA O MUNDO É A MAIS ODIADA DA HISTÓRIA E É ELA MESMA UMA PROVA CONCRETA DA EXISTÊNCIA DE DEUS

“...porque a salvação vem dos judeus” ( Jo 4.22)

Com a preservação de Noé e sua família das águas diluvianas, os filhos de Noé Sem, Jafé e Cam geraram descendência. De Sem, nasceu Asfaxade e dessa descendência nasceu Terá, filho de Naor e Naor gerou Abrão entre outros filhos. E sendo Abrão da terra de Ur dos Caldeus, Deus chamou-lhe para uma terra que iria mostrar-lhe(Gn 12.1-9). Sendo a esposa de Abrão(posteriormente Abraão), Sarai(depois Sara), estéril, Abraão recebeu a promessa de um filho e na sua velhice, nasceu-lhe Isaque e de Isaque com Rebeca, nasceram dois filhos: Esaú e Jacó. E de Jacó descendem doze filhos de suas quatro mulheres e destes filhos constituiu-se as doze tribos de Israel que foram depois escravizados por 430 anos no Egito. Ao saírem do Egito pela liderança de Moisés, o povo israelita vagueou por quarenta anos pelo deserto até que finalmente chegou na terra prometida, Canaã. Com o tempo Israel deixou de ser uma teocracia e tornou-se um reino monárquico, sendo Saul o seu primeiro rei, sucedido por Davi, pai de Salomão. No tempo de Salomão o reino de Israel dividiu-se ficando Israel (reino do norte, com Jeroboão, perdurou até 722 a.C. quando foram dominados pelos Assírios); e o reino do sul, Judá, dominado depois pelos babilônicos, na invasão de Jerusalém por Nabucodonosor em 586 a.C. Foi dessa tribo que descendia Davi, filho de Jessé e é dessa linhagem que nasceu Jesus. Na história da humanidade não existe um povo que mais amargou sofrimento que os judeus. Monarcas cruéis tentaram de todas as formas esmagar Israel. Homens da mesma estirpe de um Adolfo Hitler ou Saddan Hussein tentaram eliminar os judeus. Historicamente somente um milagre explica a existência de Israel. Outros povos da antiguidade não sofreram nem metade do que os judeus experimentaram não existem mais, por exemplo, os fenícios, assírios, babilônicos e outros. São os chamados povos extintos. Imagine o seguinte: Israel tem mais de 5 mil anos, e desse tempo cerca de 3 mil anos os judeus estiveram sob opressão. O quadro a seguir elucida melhor:

ESCRAVIDÃO DO POVO DE ISRAEL
TEMPO DE ESCRAVIDÃO
Egito
430 anos
Assíria
117 anos
Babilônia
70 anos
Pérsia
203 anos
Grécia
270 anos
Romanos
699 anos
Árabes
463 anos
Turcos
814 anos
Ingleses
34 anos
Total
3.100 anos

Mark Twain, notável escritor americano, ficou espantado e escreveu um texto magnífico em 1897 sobre a existência dos judeus na história. Suas palavras na época já refletiam muito bem o milagre que acabamos de frisar. “Se as estatísticas estiverem corretas, os judeus constituem menos de um quarto de 1% da raça humana. Isso sugere um minúsculo e obscuro pontinho perdido em meio à Via Láctea. Na verdade, nem se deveria ouvir falar acerca dos judeus; mas eles são citados, sempre se falou deles. O povo judeu tem tanto destaque no planeta quanto qualquer outro povo, e sua importância é exageradamente desproporcional à pequenez de seu tamanho. Suas contribuições à lista mundial de grandes nomes na literatura, ciência, arte, música, finanças, medicina e erudição profunda são igualmente desproporcionais ao seu número reduzido... Os egípcios, os babilônios e os persas surgiram, encheram o planeta de barulho e esplendor, e então murcharam e desapareceram. Os gregos e os romanos vieram logo após, provocaram um alarido imenso, e se foram... Os judeus presenciaram a todos eles e são hoje o que sempre foram... Todas as coisas são mortais, menos os judeus. Todas as outras forças passam, mas os judeus permanecem. Qual o segredo de sua imortalidade”?. A pergunta final de Twain pode ser respondido com Salmo 105.6,7: Vós, descendentes de Abraão...vós, filhos de Jacó, seus escolhidos. Ele é o Senhor nosso Deus.”


5ª VERDADE: O PROBLEMA DA CELEBRAÇÃO DO 25 DE DEZEMBRO NÃO É APENAS SUA ORIGEM PAGÃ, MAS SUA MÁ COMPREENSÃO BÍBLICA NUMA DATA IMPROVÁVEL COM UMA RELAÇÃO MERAMENTE CULTURAL E COMERCIAL.

“...aprendais a não ir além do que está escrito...” 1Co 4.6

Assim como os cristãos pregam a segunda vinda de Cristo sem conhecer quando isso ocorrerá, igualmente os judeus acreditavam na vinda do Messias com grande anelo, mas não sabiam a data de seu nascimento. Apesar de alguns detalhes proferidos pelos profetas sobre o Messias como: ele nasceria de uma nação específica – Israel (Gn 22.18; compare Gl 3.16); seria de uma tribo específica de Israel – Judá (Gn 49.10); e de uma família específica de Judá – a família do rei Davi (Jr 23.5); e nasceria de uma virgem conforme Isaías 7.14, mesmo assim nenhuma profecia datava o seu o nascimento. Até o local onde o Messias nasceria era conhecido através do profeta Miquéias (Mq 5.2), mas nunca a data do nascimento. E assim como não houve data para sua encarnação não há data para seu retorno em glória. E diante disso pode-se perguntar como chegou-se ao 25 de dezembro como data comemorativa do natal de Cristo. A data foi escolhida no século III depois de Cristo e é altamente improvável devido a alguns fatos circunstanciais envolvendo o nascimento de Cristo como questões climáticas e políticas. Os pastores de Belém estavam com seus rebanhos nos campos, mas em dezembro eles ficam com os animais nos currais para protegê-los do frio intenso e do inverno rigoroso. O inverno em Israel é tão forte que Jesus chegou a pedir aos seus discípulos que orassem para que a invasão de Jerusalém não acontecesse no período invernoso (Mt 24.28; ver Ct 2.11; Ed 10.9). Nesse tempo seria difícil também o imperador César Augusto ordenar o recenseamento dos povos onde cada pessoa iria para sua terra natal se alistar. Ao chegar em Belém havia tanta gente que José e Maria não encontraram vaga na hospedaria. Um decreto em pleno inverno impossibilitava as pessoas de chegarem ao seu destino e o império romano teria prejuízos nos cofres dos impostos. Então qual a dada do nascimento de Cristo? Ninguém conhece ao certo. Sabe-se que ele morreu em 7 de abril do ano 33, mas desconhecemos totalmente a data de seu nascimento. Enquanto a maior parte do mundo ocidental comemora em 25 de dezembro, os ortodoxos comemoram em 6 de janeiro e os armênios em 19 de janeiro. Talvez o Dr. Franklin Klassen, co-organizador da Bíblia em Ordem Cronológica tenha chegado mais perto em datar o nascimento de Cristo no dia 1º de abril do ano 5 antes da Era Cristã. Muitos se admiram por Klassen marcar a data do nascimento de Cristo para 1º de abril, popularmente conhecido como dia da mentira. Mas o surgimento do dia da mentira é enigmático e há até quem diga que foi da zombaria daqueles que comemoravam o nascimento de Cristo nessa data. As razões histórias de Klessen são boas e podem ser resumidas assim: 1) O evangelho de João 1.14 diz que “o verbo se fez carne e habitou entre nós...”. O Comentário Bíblico Moody afirma que o verbo habitou significa tabernaculou. É uma comparação entre Cristo e o tabernáculo, lugar onde repousava a glória de Deus durante a peregrinação de Israel no deserto. O que uma coisa tem a ver com a outra? O tabernáculo foi concluído no deserto no dia 1º de abril de 1461 a.C., nada mais lógico que Jesus que foi o real tabernáculo nascesse também no dia 1º de abril. 2) Na celebração da páscoa o cordeiro morto “era um macho de um ano”, ou seja, o cordeiro que nascia numa páscoa (mês de abril), morria na páscoa seguinte, também em abril. Jesus era o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29) e já que ele morreu em abril nada mais compreensível que também nascesse no mesmo mês conforme prefigurava os cordeiros mortos na páscoa; e 3) Na narrativa de Lucas Jesus acompanha seus pais na festa da páscoa e isso ao completar 12 anos. Parece que ele tinha completado os 12 anos recentemente. E essa ida ao templo aos 12 anos na Bíblia em Ordem Cronológica é datado em abril de 8 d.C. Mas apesar da plausibilidade não é data definitiva e mesmo assim tudo indica que o 25 de dezembro nunca mudará devido uma tradição milenar. E independente da data é fato que no livro de Atos dos Apóstolos não temos menção nenhuma de celebração natalina na comunidade cristã primitiva. Essas comemorações iniciaram-se no III século d. C., quando Hipólito, bispo de Roma escolheu a data de 2 janeiro para celebrar o nascimento de Jesus. Outras datas como 6 de janeiro; 25 ou 28 de março; 18 ou 19 de abril e ainda 20 de maio foram praticadas. Porém o 25 de dezembro estabeleceu-se como comemoração universal. Essa data é atribuída a influência da conversão do imperador Constantino ao cristianismo em substituição das festas do Natal do Sol Invicto, do mitraísmo persa e das festividades pela chegada do solstício de inverno como as Saturnalias dos romanos, uma festa dedicada a Saturno, deus da agricultura. E como as saturnalias estavam ligada a agricultura, claro a participação do sol e o desejo dos povos numa boa colheita era grande.

6ª VERDADE: O CRISTO JUDEU E SANTO TEM NA SUA GENEALOGIA JUDEUS E GENTIOS QUE COMETERAM PECADOS GROSSEIROS O QUE EVIDENCIA QUE TODOS SÃO PECADORES E PRECISAM DE UM SALVADOR.

“Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. Salmom gerou de Raabe a Boaz; este, de Rute, gerou Obede; e Obede a Jessé; Jessé gerou ao rei Davi; e o rei Davi,a Salomão, da que fora mulher de Urias.” Mt 1.1,5,6

Genealogia é uma lista cronológica de filiação para conhecer a origem de um indivíduo. Somente os evangelhos de Mateus e Lucas trazem genealogias de Cristo e com diferenças que não temos espaço aqui para explicar suas discrepâncias. Os judeus eram muito criteriosos na sua genealogia, principalmente concernente ao sacerdócio levítico onde um candidato precisava provar sua descendência da tribo de Levi. Em todas as genealogias do Antigo Testamento percebe-se a ausência de mulheres, devido o patriarcalismo e claro a ausência de gentios já que os judeus procuravam casamentos somente no seio da comunidade judaica. Mas quando lemos a genealogia do evangelho de Mateus algumas particularidades arregalaram os olhos dos judeus e fariseus: a) Na genealogia Jesus é chamado de filho de Davi, ou seja descendente do rei Davi, portanto herdeiro ao trono de Israel; b) Há menção explícita de nomes femininos como Tamar, Raabe, Rute e o nome implícito de Bate-seba; c) Das mulheres temos uma judia Tamar; Raabe, uma estrangeira e “prostituta”; e  Rute uma mulher moabita, um povo inimigo de Israel; e d) A expressão “mulher de Urias” lembra o adultério de Davi com Bate-seba, terrível erro do maior rei de Israel. Não eram apenas os gentios, tipo Raabe que cometiam pecados terríveis, o povo de Deus, inclusive o rei escolhido pelo Senhor cometeu pecados grosseiros também. Todos estavam debaixo do pecado, tanto judeus, povos da aliança que Deus estabeleceu com Abraão e os gentios, povos que não eram do pacto mas seriam abençoados por Deus através da descendência de Abraão. E como Deus não faz acepção de pessoas, todos, homens e mulheres pecadores, sejam judeus ou gentios, ambos aparecem na genealogia do Salvador.  


7ª VERDADE: NUMA SOCIEDADE SEM O CRISTO DA PAZ, FALA-SE DA PAZ DE CRISTO NA CELEBRAÇÃO NATALINA COM ALTOS ÍNDICES DE VIOLÊNCIA ANTES, DURANTE E DEPOIS DO NATAL.

Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. Jo 14.27

A palavra PAZ é  tão citada no período do natal que parece mais um mantra sagrado. Infelizmente esse ritualismo natalino não funciona e a zona de guerra continua com elevados índices de homicídios que às vezes superam até mesmo o período carnavalesco. Falar da paz de Cristo não é o mesmo que crer no Cristo da paz. Geralmente o texto bíblico do evangelho de Lucas 2.14 é citado como base da mensagem de paz nessa época do ano. Nada de errado nisso. Mas a referida passagem cita os anjos em louvor a Deus após o nascimento de Cristo num canto celestial: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens..”. O mesmo texto continua e afirma “a quem ele [Deus] quer bem.” E eis a grande diferença da paz que os anjos cantam e aquela que se fala nos pronunciamentos, desejos e cartões de natal. É uma paz a quem Deus quer na sua soberana escolha e nas condições que ele estabeleceu. A mensagem do nascimento de Cristo é que a paz não é o resultado do querer humano que nem tem condições para isso e, sim, o querer e o poder de Deus. E por isso mesmo Jesus deu aos discípulos uma paz diferente daquela que o mundo oferece. O apóstolo Paulo diz em efésios 2.14 que “ele [Jesus] é a nossa paz” porque derrubou a parede de separação entre nós e Deus. Ele desfez a inimizade. A morte de Cristo na cruz, nos reconciliou com Deus Pai e agora temos uma consciência tranquila e paz na alma. Ninguém pode falar em paz enquanto seus pecados o acusam diante de um Deus justo e santo. A razão do ser humano não ter paz consigo e nem com o seu semelhante é porque está em inimizade com Deus e somente Cristo como reconciliador devolve a paz tão almejada.

8ª VERDADE: OS PASTORES DE BELÉM COMO JUDEUS PRÓXIMOS E OS MAGOS DO ORIENTE COMO GENTIOS DISTANTES NA VISITA DO MENINO JESUS PROVA QUE TODOS SÃO PECADORES E QUE DEUS NÃO FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS.

“Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável.” At 10.34,35

Há um contraste interessante nas narrativas dos evangelhos. Enquanto Mateus ao escrever para os judeus apresenta os sábios gentios na visita do rei Jesus; Lucas escreve aos gregos e mostra os judeus indo até a manjedoura para ver o salvador. Para os judeus ter o seu Messias, prometido pelos profetas e visitado por gentios distantes era uma repreensão por estarem tão perto geograficamente e tão distantes dos sinais das promessas divinas. As circunstâncias da chegada dos magos evidencia a realidade espiritual fria dos israelitas. Quando Herodes quis saber sobre o local do nascimento do menino rei, os sacerdotes e escribas citaram Belém conforme profecia de Miqueias. Eles sabiam pelo estudo da escritura que Belém era o local do nascimento do Messias, mas não tinham nenhum desejo de encontrá-lo. Os sábios, vindos de tão longe e sem fazer parte da nação israelita, estavam ali porque como disseram “vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo.” Após a informação da cidade natal eles continuaram a viagem e com grande alegria e júbilo encontraram na casa o menino Jesus com sua mãe Maria. E como era comum a entrega de presentes na visita aos reis, os sábios entregaram de seus tesouros ouro, mirra e incenso. Depois partiram e embora estivessem comprometidos com Herodes que lhe diriam onde estava o menino, resolveram obedecer antes a Deus que em sonhos os advertiu para não procurarem o monarca. Não se obedece aos homens, mesmo soberanos quando suas palavras contradizem o Soberano do Universo. Na vinda do filho de Deus, simples pastores judeus correram até Belém e gentios distantes viajaram até lá para encontrar o rei que nasceu. Os primeiros pelo anúncio do anjo e os segundos pelo sinal da estrela, ambos pecadores, judeus e gentios na esperança e certeza que a salvação havia chegado para Israel e para o mundo.

9ª VERDADE: AS DIFERENÇAS ENTRE OS PASTORES DE BELÉM E OS MAGOS DO ORIENTE NA VISITA AO MENINO JESUS MOSTRA O PLANO DIVINO DE SALVAÇÃO PARA OS POVOS DO MUNDO.

“...os pastores diziam uns aos outros: Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos...” Lc  2.15
“Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia... Eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém” Mt 2.1


PASTORES DE BELÉM
MAGOS DO ORIENTE
Nacionalidade
Judeus
Gentios
Contemplaram a Jesus
Na manjedoura, pouco depois do nascimento
Em casa, tempos depois do nascimento
Souberam do nascimento
Pelos anjos, um fenômeno sobrenatural
Pelos astros, um fenômeno natural
Quantos eram
Vários pastores
Vários sábios, a tradição indica três conforme os presentes
A quem se dirigiram
Foram diretamente ao local do nascimento
Foram primeiro até o palácio do rei Herodes
Evangelhos que narram
Lucas
Mateus
Ênfase do texto
O Salvador que nasceu em Belém
O Rei dos judeus que nasceu

10ª VERDADE: NUM SENTIDO BÁSICO O CRISTIANISMO É DIFERENTE DE TODA E QUALQUER RELIGIÃO, POIS ENQUANTO NAS RELIGIÕES OS HOMENS BUSCAM A DEUS; NO CRISTIANISMO DEUS BUSCA E REVELA-SE AO HOMEM PERDIDO.

“Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum lançarei fora.” Jo 6.37

O historiador Edward Gibbon afirmou que durante o fim do Império Romano, todas as religiões eram consideradas igualmente verdadeiras pelos cidadãos comuns, igualmente falsas pelos filósofos e igualmente úteis pelos políticos. Ainda hoje é comum considerar as diversas utilidades da religião, até Freud fez isso. Porém geralmente se diz que as religiões são diferentes caminhos para se chegar a Deus. Essa crença parte do princípio que todas as religiões buscam a divindade o que de certa forma é verdadeiro. O grande dilema e o calcanhar de Aquiles dessa questão não é a busca do homem por Deus e sim o contrário. Deus é de cima e nós cá de baixo. Ele é infinito e nós somos finitos. Então como podemos conhecer aquele que é e está infinitamente além de nós? Ou seja, como o finito (homem) pode conhecer o infinito (Deus)? E para complicar ainda mais, a distância entre o homem e Deus não é apenas espacial é principalmente moral. Ele é santo e nós pecadores. Herbert Spencer, um agnóstico, observou certa vez que nunca se viu um pássaro voar para fora do espaço. Com isso ele concluiu por analogia que é impossível o finito penetrar o infinito. A observação de Spencer estava certa, mas sua conclusão esquecia uma outra possibilidade: que o infinito pode penetrar o finito. O nascimento de Cristo é uma prova clara disso e mostrou a pessoa de um Deus infinito e santo revelando-se ao homem finito e pecador. Após a morte de Cristo na cruz o véu do templo rasgou-se de alto a baixo e não de baixo para o alto. É sempre de Deus para o homem. Tanto antes quando após a entrada do mal na raça humana o livro de Gênesis narra Deus sempre na dianteira para comunicar-se com o primeiro casal, nunca o contrário. Caso Deus, o criador, não houvesse tomado a iniciativa de falar com Adão, criatura, este nunca haveria de conhecê-lo. Como disse Jonh Stott: “Quando a mente humana começa a se preocupar com Deus, torna-se perplexa. Tateia na escuridão. Tropeça. Está perdida. Não é de estranhar que assim ocorra, porque Deus, seja quem for ou o que for, é um ser infinito e imortal, enquanto nós somos mortais e finitos. Ele está totalmente fora de nosso alcance. Desse modo nossa mente, que é um instrumento maravilhosamente efetivo em outros setores, não nos pode ajudar de pronto. Não pode subir a infinita mente de Deus. Não há escada. Existe apenas um vasto e imensurável abismo. “Porventura alcançarás os caminhos de Deus?” (Jó 11:7). Impossível. Esta situação assim permaneceria, se Deus não houvesse tomado a iniciativa de repara-la”. Na mitologia egípcia quando os viajantes não conseguiam decifrar os enigmas da monstruosa Esfinge, eram logo mortos. Caso Deus, um ser infinito não se revelasse a nós seres humanos finitos, então estávamos destinados a mesma sorte e destino fatal. Se Deus não tivesse falado nós não poderíamos dizer nada. E o que é o nada? Como disse Aristóteles nada é o silencio das pedras. E nessa situação ao falarmos de Deus seríamos semelhantes as pedras, num silêncio absoluto sem nenhuma possibilidade de algum clamor. Até o nosso choro só faz algum sentido por causa daquele choro naquela velha manjedoura. Vamos até Deus porque primeiro Ele veio até nós ao nosso encontro e socorro – O EMANUEL, Deus conosco.

 11ª VERDADE: SE DEUS UM DIA DESCESSE DO CÉU E SE TORNASSE HOMEM, SEU NASCIMENTO, VIDA, ATOS, ENSINAMENTOS, MORTE E RETORNO NÃO PODERIAM SER IGUAIS EM TODOS OS SENTIDOS AOS HUMANOS.

“Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana.” Fp 2.6,7

Se existe alguém que satisfaz a mente humana quando refletimos sobre o caráter de Deus é a pessoa de Jesus. Como alguém já disse se Jesus não era Deus, ele merecia o prêmio de melhor ator do mundo. Todos as suas palavras e atos, até mesmo na infância mostram sua divindade. Isso está tão claro que existem apenas três posições sobre Jesus: ou ele era um mentiroso e da pior espécie; ou um lunático desvairado ou então ele era Deus. Dizer amorosa e respeitosamente que ele era apenas um bom mestre não faz sentido algum. Diante do que ele disse e fez não seria mestre e nem muito menos bom. Alguém que diz: “Eu sou a verdade”; “Eu sou a ressureição e a vida”; e “Ninguém vem ao pai senão por mim”, seria rejeitado rapidamente como bom mestre. E apesar de todos destacarem a humildade e simplicidade de Cristo, com esses dizeres ele não teria nada de humilde, seria sim o maior exemplo de arrogância e prepotência da história, pois apresentou-se como filho de Deus, perdoou pecados e disse que sem ele nada podemos fazer. Como um homem expressa-se desse jeito e continua inigualável em admiração? E a resposta é porque ele realmente era inigualável. Ora se nós pensarmos por um momento no que aconteceria e como se daria a entrada de Deus na história humana, certamente concluiríamos que:
      Entraria na vida humana de maneira incomum – foi o que aconteceu no nascimento de Jesus;
      Não experimentaria a maldade do homem pecador – Cristo era sem pecado e sem falha alguma;
      Manifestaria o sobrenatural nos seus atos – Foram muitos os milagres praticados por ele;
      Possuiria uma consciência de ser alguém diferente dos outros seres humano – Ele tinha esse sentimento mesmo já na infância;
      Proclamaria a maior mensagem já pregada – O ensino de Cristo é ímpar na história;
      Possuiria uma influência permanente e universal – O cristianismo resiste aos tempos e triunfa;
      Satisfaria a fome e sede interior do ser humano – Quem encontra Cristo encontra suficiência;
      Manifestaria poder sobre a morte – sua ressurreição é a prova dessa verdade;
      Retornaria para a eternidade de maneira incomum – sua ascensão aos céus na presença dos discípulos.

12ª VERDADE: A OMISSÃO DOS DETALHES SOBRE A INFÂNCIA E JUVENTUDE DE CRISTO NOS EVANGELHOS EXPLICAM-SE DEVIDO A CENTRALIDADE DE SUA MISSÃO E PROPÓSITO SALVÍFICO DEMONSTRADOS NA SUA OBEDIÊNCIA, MORTE E RESSURREIÇÃO.

“...Ele será chamado nazareno.” Mt 2.23

A sabedoria de Jesus chama tanto a atenção do mundo que muitos resolveram preencher as lacunas da ausência dos detalhes sobre sua infância e juventude citando supostos manuscritos que mostram Jesus entre os lamas na Índia e no Tibete. O problema é que as diferenças entre hinduísmo/budismo e judaísmo são do tamanho da cordilheira do Himalaia e mais altas que o monte Everest. Duas substancias heterogêneas como água e óleo que não se misturam. Exceção a Tiro e Sidom, Jesus nunca saiu do território israelense a não ser ao Egito quando bebê nos braços de sua mãe em companhia de José para fugir da espada de Herodes. Depois disso, veio para Nazaré, cidade onde cresceu e viveu e onde todos o conheciam. Lucas relata um episódio sobre Jesus em que diz: “Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.” Nesse texto percebe-se que ele foi criado em Nazaré e era seu costume ir até a sinagoga. Jesus era conhecido por todos de sua região. Aos doze anos ele participou da páscoa com os seus pais em Jerusalém. Ele não saiu de sua terra quando era pequeno e depois retornou aos 30 anos para ensinar publicamente aos judeus ensinos divergentes e opostos as tradições milenares da comunidade judaica. Não, as citações que ele fazia de Moisés e dos profetas mostram suas raízes e suas crenças no monoteísmo judaico-cristão. A pouca ênfase que os evangelhos dão ao seu nascimento, infância e juventude explica-se pela centralidade de seus ensinos, atos, morte e ressurreição que são a causa daquilo que o homem mais precisava e ele veio revelar – a salvação. E tudo isso ele só começou a realizar aos 30 anos, período de maioridade entre os judeus.


13ª VERDADE: UM REI QUE NASCE NUMA MANJEDOURA DE ANIMAIS E MORRE NUMA CRUZ DE MALFEITORES CONTRARIA A TODA SABEDORIA E LÓGICA HUMANA.

“Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.” 1Co 1.25

Tudo bem que um rei não precisa nascer num palácio para ser considerado herdeiro do trono, mas nascer numa manjedoura é fora de toda cogitação e seria uma humilhação para um rei ou imperador ter o nascimento de seu filho numa estrebaria de animais. Imagine o que passou na mente daqueles pastores quando o anjo falou: “encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura.” Ora minutos antes o mensageiro celestial havia dito que na cidade de Davi, havia nascido o Salvador que era Cristo, o Senhor. Se era improvável que um filho de algum rei nascesse numa manjedoura, seria considerado impossível o filho de Deus nascer naquele local, mas foi o que inesperadamente aconteceu. Maria e José seriam alvos da ironia de um casal pobre com sonhos de grandeza acerca daquele bebê. É verdade que na chegada dos magos, o menino não estava mais na estrebaria e, sim, numa casa, mas souberam da historia e ainda assim adoraram e deram presentes dignos de realeza. O menino cresceu, viveu numa cidade pobre, era filho de carpinteiro, andou num jumentinho e finalmente ao ser condenado a morte foi vestido de vestes reais e coroado de espinhos para zombaria de seus inimigos. Na cruz sobre sua cabeça Pilatos escreveu: JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS. Os sacerdotes não gostaram pois não reconheciam que ele era rei. Na manjedoura não o reconheceram como rei e agora muito menos veriam sua realeza na morte de Cruz. Manjedoura e cruz; nascimento e morte; e a negação de que Jesus era rei e salvador, e tudo isso porque o plano de Deus contrariou a sabedoria e lógica humanas.

14ª VERDADE: UM REI QUE CHEGA PARA MANIFESTAR O REINO E IMPLANTÁ-LO PRIMEIRO NO CORAÇÃO DOS SÚDITOS ANTES DE INTRODUZIR ESSES SÚDITOS PARA DENTRO DO REINO.

A isso, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo  que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Jo 3.3

Os fariseus eram críticos ferrenhos de Jesus e sempre estavam em busca de um momento apropriado para acusá-lo. Suas perguntas eram sempre para colocar Jesus entre a parede e a espada. Ainda assim saiam envergonhados e tramando uma nova oportunidade. De repente um membro da seita, entendido na teologia do velho testamento procurou numa noite conversar a sós com Jesus. Seu nome era Nicodemos. De início ele reconheceu que os milagres de Cristo provinham de Deus. Jesus foi direto ao ponto e disse que todos, incluindo Nicodemos, necessitavam do novo nascimento para verem e entrarem no reino de Deus. Na teologia essa mudança interior é chamada de regeneração. Com o pecado de Adão e o juízo da natureza pecaminosa no ser humano, este ficou morto em pecado. É como se cada um de nós estivéssemos num túmulo igual a Lázaro e não pudéssemos fazer nada para sair de lá. Somente o autor da vida pode nos fazer volta a viver. E como o homem está tão cego, alienado e não passa de um cadáver ambulante, então Deus precisa agir no interior desse homem para torná-lo à vida. Em outras palavras, primeiro Deus coloca o seu reino dentro do ser humano através do novo nascimento para que esse ser humano possa um dia gozar eternamente no reino de Deus. Pois como disse Jesus “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus”. Na teologia reformada a frase “a regeneração precede a fé”, significa justamente isso. As disposições interiores do pecador são radicalmente transformadas por Deus para que ele possa exercer fé e arrepender-se de suas maldades. A vinda de Jesus ao mundo tinha como propósito introduzir internamente o reino de Deus nos corações para que esses súditos sejam conduzidos depois para dentro do próprio reino.

15ª VERDADE: A DIVISÃO DE NOSSO CALENDÁRIO EM ANTES E DEPOIS DE CRISTO MOSTRA QUE ELE COMO CENTRO DA HISTÓRIA DEVERIA SER IGUALMENTE O CENTRO DE NOSSAS VIDAS.

“Eu sou o Alfa e Ômega, o Primeiro e Último, o Princípio e o Fim.” Ap 22.13

Calendário vem do latim “calenda” – primeiro dia de cada mês entre os romanos. O uso do calendário para dividir o tempo vem desde a antiguidade e foi introduzido pelos egípcios. São vários os calendários e as formas de contar o tempo. Aqui referimo-nos ao calendário chamado cristão ou gregoriano cujo marco parte do nascimento de Cristo. No mundo ocidental o tempo está dividido em antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d.C.). A importância de Cristo para a história universal foi tanta que o tempo foi dividido em antes dele com as datas em cômputo regressivo ou decrescente, e depois dele com contagem progressiva ou crescente. Jesus então é o centro da história. Acredita-se que seu nascimento se deu em 5 antes da Era Cristã, daí dizer-se que Cristo nasceu 5 anos a.C., uma linguagem que pode causar confusão. A explicação para esse fato é que o imperador Justiniano I, entregou ao abade Dionísio Exiguus, a responsabilidade de organizar o calendário no ano de 526 d.C. Diz-se que ele fixou o ano 1 d.C. como o ano 753  da fundação de Roma, ou seja, o ano 753 AUC. E nesse caso o ano deveria ter sido o 749 AUC, o que equivale a um erro de 5 anos. Se isso for verdade, o que é discutível, todas as datas dos acontecimentos posteriores ao nascimento de Cristo estão atrasadas em cinco anos. Independente disso, a pessoa de Cristo e sua mensagem dividiu nossa história e deveria também marcar o tempo da nossa existência. Todos que tiveram um encontro com Jesus receberam uma nova vida. Muitos celebram o natal e falam de um ano novo, mas continuam na velha vida de pecados desejando o carnaval que se aproxima. “Quem está em Cristo é uma nova escritura”, é o que diz a Bíblia. E essa novidade de vida não depende de fim ou começo de mais um ano. É algo que acontece a cada momento do dia-a-dia. E a prova disso são suas crenças e práticas na família, no trabalho e em sociedade.

16ª VERDADE: DA MANJEDOURA A CRUZ – O CRISTO QUE NASCE E MORRE NA HUMILHAÇÃO DA MADEIRA E DO MADEIRO.

“Foram apressadamente e acharam Maria e José e a criança deitada numa manjedoura.” Lc 2.16
“O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, pendurando-o no madeiro”. At 5.30

O profeta Isaias no capítulo 53 vaticinou a vida, sofrimento e morte do Messias com cores tão vívidas que lembra a manjedoura e a cruz. Ele é comparado ao renovo de uma raiz que nasce em terra seca; desprezado e rejeitado pelos homens; ferido de Deus; oprimido e humilhado; e levado ao matadouro como cordeiro mudo. Para quem acredita que o texto de Isaias se aplica a Israel e não ao Messias, basta observar que há três fatos impossíveis de referirem-se ao povo judeu. 1) O Messias era sem pecado e Israel não poderia aplicar isso pra si (53.9); 2) O Messias é um cordeiro que submete-se sem resistência ao contrário de Israel (53.7); e 3) Ele morre no lugar dos transgressores e Israel nunca procedeu assim. Jesus nasce num lugar de ovelhas e morre como uma ovelha em favor dos pecadores (53.11,12). Agnus Dei – O cordeiro de Deus. Ele nasce e ali experimenta a humilhação da madeira de estar deitado num lugar reservado a comida dos animais. E morre no madeiro e ali  recebe a humilhação de ser crucificado como o pior dos malfeitores. Em seu nascimento humilhação e em sua morte mais humilhação ainda. Porém, o que nasceu na manjedoura, existia antes dela; e o que morreu na cruz ressuscitou depois e subiu aos céus para assentar-se a destra do Pai. O mais humilhado de todos foi exaltado acima de todos. Apocalipse 19.16 diz: “Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES.”

17ª VERDADE: POR MAIS INACREDITÁVEIS QUE DETERMINADOS ACONTECIMENTOS HISTÓRICOS PAREÇAM SER, AS LENDAS NUNCA SURGIRAM SUBITAMENTE NA HISTÓRIA .

“Porque não vos damos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós fomos testemunhas oculares da sua majestade.” 2Pd 1.16

Existe uma diferença enorme entre uma fonte histórica e a literatura lendária. Caso você leia os primeiros capítulos dos evangelhos de Mateus e Lucas sobre o nascimento de Cristo verá um estilo e conteúdo bem diferente por exemplo da leitura do livro um de Bem–Hur, de Lew Wallace que romanceia o mesmo acontecimento. O crítico literário e professor de literatura de Oxford, C.S. Lewis que deixou o ateísmo notou muito bem isso em sua autobiografia ao dizer “Na época eu já era experimentado demais na crítica literária para achar que os Evangelhos fossem mitos. Eles não tinham o sabor mítico e, no entanto, a própria essência que eles revelavam ao seu modo não artístico e histórico – aqueles judeus estreitos e pouco atraentes, cegos demais diante da riqueza mítica do mundo pagão em torno deles – era precisamente a essência dos grandes mitos. Se alguma vez um mito se tornara fato, fora encarnado, teria sido exatamente assim. E nada mais em toda a literatura era exatamente assim. De certo modo, os mitos são como os Evangelhos. De outro, a história era como eles. Mas nada era absolutamente como eles.”   As vezes os críticos liberais insistem em dizer que a vida de Jesus foi registrada por seus seguidores 60 a 90 anos depois, insinuando assim um tempo suficiente para corromper a integridade dos fatos e criar lendas em torno de sua pessoa. Mas isso não é verdade. E mesmo que fosse, o catedrático Craig Blomberg já respondeu a acusação de modo convincente: “As duas biografias mais antigas de Alexandre, o Grande, foram escritas por Ariano e Plutarco depois de mais de 400 anos da morte de Alexandre, ocorrida em 323 a.C., e mesmo assim os historiadores as consideram muito confiáveis. É claro que surgiu um material lendário com o decorrer do tempo, mas isso só aconteceu nos séculos posteriores aos dois autores. Por outras palavras, nos primeiros 500 anos, a história de Alexandre ficou quase intacta. O material lendário começou a aparecer nos 500 anos seguintes. Portanto, comparativamente, é insignificante saber se os evangelhos foram escritos 60 ou 30 anos depois da morte de Jesus. Na verdade a questão praticamente inexiste.” O problema dos críticos então não é a falta de evidência histórica e, sim, porque eles adotaram a regra “se é miraculoso, não é histórico”, e isso eles fizeram por causa de suas pressuposições filosóficas e não por princípios deduzidos da literatura histórica antiga. No século dezenove, precisamente no ano de 1844, o teólogo alemão, Julius Muller fez um desafio sobre quem poderia encontrar na história mundial um único exemplo de desenvolvimento lendário rápido. Até hoje ninguém conseguiu apresentar. O tempo passou e agora o desafio já difícil tornou-se impossível de respondê-lo. O historiador clássico da Universidade de Oxford, A.N. Sherwin-White examinou a proporção em que as lendas apareciam no mundo e concluiu que nem duas gerações completas fornece tempo suficiente para apagar as evidências dos fatos históricos. Em outras palavras os relatos sobre o nascimento, vida e morte de Jesus impossibilita afirmar que trata-se de lenda posteriormente desenvolvida. Sobre sua morte, ressureição e aparições o credo de 1 Coríntios 15 mostra que em menos de dois anos esses fatos já eram citados por testemunhas oculares. E dizer que a Bíblia é o único documento que menciona Jesus é não perceber que além dos evangelhos serem documentos independentes, durante os 150 anos depois de Cristo dez escritores não cristãos o mencionam e caso você ache pouco compare isso com Tibério César, imperador dos tempos de Cristo que é citado em fontes não-cristãs cerca de nove vezes no mesmo período de tempo. Rejeitar os fatos do cristianismo não é questão de falta de evidências é simplesmente uma atitude endurecida de coração. O problema não é que o homem não entenda a Bíblia, na verdade ele entende tão bem que rejeita claramente sua mensagem e seu autor.

18ª VERDADE: O ANÚNCIO DO NASCIMENTO DE CRISTO REVELA O CARÁTER DE DEUS E A CONDIÇÃO E NECESSIDADE  HUMANA.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha avida eterna.” Jo 3.16

A palavra evangelho significa “boas novas”. Quando o anjo disse para os pastores que trazia boas novas de alegria acrescentou que era para todo o povo. A expressão “evangelho de Deus” não significa apenas algo que fala de Deus, mas de algo que é posse de Deus, que pertence a ele. Evangelho portanto não é apenas a exposição de fatos e crenças do cristianismo. Evangelho é o caráter de Deus. É a face do próprio Deus voltada para nós em amor e justiça. E esse vislumbre da pessoa de Deus mostra realmente quem somos e o que carecemos. No anúncio angélico que diz: “vos trago boas-novas...” mostra o pulsar do coração de Deus pela humanidade; e ao dizer “hoje vos nasceu o Salvador”, revela a condição do ser humano e sua real necessidade. Ora o Salvador nasceu porque o pecado nos matou e deixou-nos sem condições de reconciliarmo-nos com o criador por nossas próprias forças e meios. E assim o evangelho é tanto uma boa quanto uma má notícia. Como assim? Se por um lado o evangelho revela a bondade de Deus em nos socorrer ao enviar seu filho, mostra também a decadência moral e espiritual de nossas vidas. Não temos condições de se chegar até a Ele a não ser que Ele estenda a sua mão e nos tire do atoleiro que nos metemos. A boa notícia é a grandeza do amor de Deus; a má notícia é o tamanho do nosso ódio; a boa notícia é a glória de Deus; a má notícia é o orgulho e vaidade do homem; a boa notícia é que Deus nos dar vida em Cristo; a má notícia é que estamos mortos em pecados; a boa notícia é que Deus sendo justo em nos condenar nos abre os céus por seu filho; e a má notícia é que apesar de tão grande amor ainda viramos as costas e rejeitamos sua salvação.  
 
19ª VERDADE: O CRISTO QUE NASCE JÁ PROVOCA A IRA DOS HOMENS E A MORTE DE CRIANÇAS NUM PRENÚNCIO DE COMO SERÁ RECEBIDA SUA MENSAGEM E SEUS MENSAGEIROS.

Há no Novo Testamento três Herodes e um quarto com o nome de Agripa. O Herodes do nascimento de Cristo é conhecido na história como Herodes, o Grande. Foi ele que ao saber da ida dos magos para suas terras sem lhe dizer onde a criança estava, resolveu num ato cruel e covarde ordenar a matança de todas as crianças de Belém de dois anos para baixo a fim de matar o menino Jesus. Herodes, era um idumeu, descendente de Esaú e rei da Judéia. Foi um homem tão perverso que sua morte trouxe alegria no lugar de choro. Era um dos cinco filhos de Antipater e tornou-se rei da Judéia em 37 a.C. Teve dez mulheres ao longo de sua vida. Era um homem muito desconfiado e cruel ao ponto de matar seus dois filhos, Alexandre e Aristóbulo acusados de conspiração contra o pai. Apesar de não ter bom relacionamento com os judeus para agradá-los reconstruiu e embelezou o templo em Jerusalém. O nascimento de Cristo aconteceu no fim de seu reinado. Sua morte deu-se em 4 a.C. aos 70 anos de idade e no trigésimo quarto ano de seu reinado. Sua ordem insana de matar crianças por causa do nascimento de Cristo mostra seu ódio ao anúncio da chegada do rei de Israel. Tal ódio do rei e do reino acompanhou Cristo em todo seu ministério terrestre; e o mesmo aconteceu aos seus apóstolos e discípulos nos anos subsequentes. Até hoje a mensagem do reino de Deus desencadeia a ira dos governantes contra os mensageiros desse reino ao ponto de prendê-los, maltratá-los e até matá-los. A mensagem do cristianismo trouxe espada e rejeição aos mensageiros da mesma forma que Cristo foi rejeitado e odiado desde seu nascimento. À sombra da cruz pairava sobre a manjedoura. A tentativa frustrada de Herodes será mais tarde executada por outro Herodes que antes mandara matar um homem que nascera seis meses antes de Jesus – João Batista.

20ª VERDADE:  O JESUS QUE NASCE NÃO DEIXA DE SER DEUS, MAS TORNA-SE AGORA DEUS E HOMEM E DESSA FORMA ELE SATISFAZ PLENA E UNICAMENTE A MEDIAÇÃO ENTRE O DEUS SANTO E O HOMEM PECADOR.

“Portanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.” 1Tm 2.5

Nos perguntamos porque Jesus teve que assumir a natureza humana. Não bastaria Deus ter bradado dos céus e dizer que perdoaria os pecadores e pronto? Afinal seria mais fácil, sem manjedoura, sem humilhação, sem cruz e sem sofrimento. Ou então Jesus viria como um anjo e pregaria o bem e a salvação e depois voltaria para os céus. Haveria menos mistérios, sem encarnação, sem expiação, sem ressurreição e sem ascensão. Mas caso alguma dessas ou outra alternativa fossem realizadas, Deus não seria considerado nem amoroso, nem santo ou justo. A sua santa e justa lei fora quebrada consciente e livremente por suas criaturas. A penalidade e sentença deveriam ser aplicadas ao culpado senão sua justiça seria capenga e seu amor frouxo. Aparentemente os dois conceitos amor e justiça estavam em tensão por causa do pecado humano ante a santidade divina. O que fazer diante disso? Perdoá-los sem puni-los ou puni-los sem perdoá-los? Em sua perfeição Deus aplicou sua justiça e amor de maneira que a punição foi aplicada e o perdão concedido. E para esse fim alguém sem pecados viveria em obediência, cumpriria a lei, receberia o julgamento e morreria em lugar do culpado. E assim os méritos de Cristo seriam transferidos por fé aos eleitos. Um plano estabelecido na eternidade e executado na história. Mas para realizá-lo Jesus seria enviado como homem para resgatar os pecadores. A encarnação era a única forma dele identificar-se com a humanidade perdida. Isso não significava que ele experimentaria o pecado, pois o pecado não era intrínseco a natureza humana. Jesus era uma espécie de Adão antes de pecar vivendo num mundo cheio de pecado. Para se ter uma ideia, enquanto Adão num ambiente paradisíaco sem necessidades ou dificuldades materiais, familiares, psicológicas ou sociais cedeu a tentação e pecou num jardim; Jesus com 40 dias sem comer e com fome, rodeado por imensas dificuldades de toda natureza, não cedeu as investidas do inimigo e venceu num deserto. Somente um Cristo com duas naturezas, humana e divina pode realizar a mediação entre o divino e o humano; alguém que tem em si mesmo a finitude e a infinitude; a mortalidade e a imortalidade; carregou a culpa sem ser culpado; morreu a morte de outros; ressuscitou com as marcas da dor; subiu aos céus e fez uma perfeita mediação entre Deus e o homem porque ele é ambos ao mesmo tempo e hoje intercede pelos seus à destra do Pai.

Referencias Bibliográficas
       LEWIS, C.S. Surprendido pela alegria, Mundo Cristão, 3ª edição 2000
       STROBEL, Lee. Em Defesa de Cristo,  Editora Vida,  2002
       GEISLER, &TUREK, Norman e Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. Vida acadêmica, 2006
       WALLACE, Lew. Bem-Hur uma história dos tempos de Cristo. Martin Claret, 2006
       DAVIS, John D. Dicionário da Bíbia. Juerp, 14ª edição, 1987
       MCDOWELL,  Josh. Evidência que exige um veredito, vol I. Candeia, 2000
       CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, vol. IV. Hagnos, 2004
       Defesa da Fé. Revista do ICP – Instituto Cristão de Pesquisas, ano 4 nº 29, edição de dezembro de 2000
       GILBERTO, Antônio. Manual da Escola Dominical. CPAD,  14ª edição 1995
       COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Eu Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Edições Parakletos, 2002
       Bíblia Sagrada.  Edição Revista e Atualizada de Almeida. SBB, 2ª edição de 1992
       MENDES, Jeovah. Curiosidades da Bíblia e da História: De Adão aos nossos dias. Edições Livro Técnico, 2001
       LUTZER, Erwin E. Cristo entre outros deuses. CPAD, 2000
       FILHO, Glauco Magalhães. O Imaginário em As Crônicas de Nárnia. Mundo Cristão, 2005











COMO INTERPRETAR CORRETAMENTE A BÍBLIA
Um estudo com base em Atos 8.26-38

Por Gildo Gomes


A palavra “hermenêutica” lembra Hermes, o deus-mensageiro alado da mitologia grega, considerado o intérprete e o mensageiro dos deuses, principalmente de Zeus. Com o tempo e por derivação do termo grego hermeneutike que provém do verbo grego hermeneuo, passou a significar a arte de interpretar os textos. E no caso da Bíblia é a interpretação do texto sagrado. Afinal, para ensinarmos e aplicarmos as escrituras em nossas vidas precisamos primeiro entende-las, o que significa interpretar corretamente a palavra de Deus. Paulo sabia tanto disso que chegou a dizer: “Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. (2Tm 2.15). Lawrence Olson fez o seguinte comentário sobre esse texto: “Manejar bem” a palavra significa, na linguagem de Paulo, “fazer um corte reto”. O pedreiro constrói a parede em linha reta. O carpinteiro risca a obra em linha reta. O agricultor ara a terra em linhas retas. Semelhantemente, o obreiro do Senhor que interpreta a Bíblia, terá que interpreta-la corretamente – em linha reta!” [1]. O próprio apóstolo Paulo pela experiência de seu ofício sabia bem o que era “cortar em linha reta”. Como sabemos Paulo trabalhava fazendo tendas e para isso se utilizava de peles de cabras, animais que pelo pequeno tamanho seu couro não era suficiente para uma tenda, exigindo assim vários couros cortados e costurados para realização de uma boa tenda para os viajantes. Mas se os pedaços não fossem bem cortados e costurados conforme o padrão todo o trabalho de confecção da tenda estaria comprometido. Igualmente quando alguém não junta os “pedaços” das escrituras e não faz o corte reto não teremos a palavra de Deus diante de nós [2].
O estudante da bíblia mais do que ninguém precisa conhecer a arte do bem interpretar. Ninguém pode a despeito de qualquer cultura que possuir, interpretar a bíblia ao seu bel prazer. E nem tampouco se dar ao luxo de malabarismos teológicos ao se deparar com alguns textos difíceis da sagrada escritura. Mas, a Bíblia não é um livro fácil de se entender? Ou será um livro tão complexo que só um grupo seleto altamente preparado da igreja pode interpreta-la? Já no primeiro século o apóstolo Pedro disse em sua segunda carta sobre os escritos do apóstolo Paulo: “e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; como faz também em todas as suas epístolas, nelas falando acerca destas coisas, nas quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, como o fazem também com as outras Escrituras, para sua própria perdição”. (2Pd 3.14,15). Portanto, na bíblia há certas passagens difíceis de entender, pois Pedro fala de “pontos difíceis de entender” e não da totalidade das cartas paulinas. E Pedro fala de pontos difíceis e não impossíveis de entender. E quem distorce os escritos paulinos – não faz o corte reto, não são os crentes, mas os “indoutos e inconstantes”. O mesmo pode-se afirmar sobre outras partes das escrituras. É verdade que qualquer pessoa pode compreender o Evangelho de João, por exemplo, mas para compreendê-lo melhor e de modo mais claro o leitor deve se apropriar das ferramentas que a hermenêutica oferece para um crescimento espiritual maduro e sadio. Doutra forma as escrituras serão distorcidas – a linha não será reta e a interpretação estará comprometida.
Para ajudar-lhe nesse caminho às vezes difícil, mas necessário, quero compartilhar com você no presente artigo algumas regras simples para uma boa e sadia interpretação. Elas todas serão extraídas a partir do relato de Filipe e o eunuco da Rainha de Candace, no livro de Atos capítulo 8 que nos ajudará durante o processo de leitura, interpretação e aplicação da verdade bíblica para nós. O texto diz: “Mas um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai em direção do sul pelo caminho que desce de Jerusalém a Gaza, o qual está deserto. E levantou-se e foi; e eis que um etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros e tinha ido a Jerusalém para adorar, regressava e, sentado no seu carro, lia o profeta Isaías. Disse o Espírito a Filipe: Chega-te e ajunta-te a esse carro. E correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes, porventura, o que estás lendo? Ele respondeu: Pois como poderei entender, se alguém não me ensinar? e rogou a Filipe que subisse e com ele se sentasse. Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Foi levado como a ovelha ao matadouro, e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, assim ele não abre a sua boca. Na sua humilhação foi tirado o seu julgamento; quem contará a sua geração? porque a sua vida é tirada da terra. Respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? de si mesmo, ou de algum outro? Então Filipe tomou a palavra e, começando por esta escritura, anunciou-lhe a Jesus. E indo eles caminhando, chegaram a um lugar onde havia água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Felipe: é lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e Filipe o batizou” (At 8.26-38). As lições derivadas dessa passagem bíblica serão divididas em duas: primeiro vamos aprender o que é necessário evitar para o exercício de uma boa interpretação do texto bíblico; e em segundo o que é necessário realizar para uma boa interpretação da sagrada escritura.

I. O que é necessário evitar na interpretação correta da bíblica

a) Primeiro: Precisamos compreender que a cultura ajuda, mas por si só não é suficiente para uma interpretação correta e coerente das escrituras. O etíope era um alto funcionário da rainha de Candace, uma espécie de primeiro ministro (At 8.32). A Etiópia da bíblia (Cuxe) era o sul do Egito e Candace era um título da rainha, similar a Faraó entre os egípcios ou César entre o romanos. Embora a Bíblia não descreva o grau de conhecimento do eunuco, certamente ele tinha condições intelectuais suficientes para ser o superintendente dos tesouros de sua majestade. Apesar disso, o etíope não entendia o que lia no profeta Isaias (At 8.28,31). Essa é uma grande verdade bíblica: para entendermos o que Deus fala, precisamos ter nossa mente iluminada pelo Espírito Santo (1Co 2.14,15; Mt 11.25; Jo 3.10; Mt 13.11). Mas isso significa que o descrente não possa compreender nada do texto bíblico? Claro que não. O próprio etíope compreendia algo do texto, mas tinha dúvidas sobre de quem falava o profeta Isaias. Quando o texto de 1Coríntios 2.14 fala que o descrente não entende refere-se não em entender apenas com o intelecto, mas compreender por experiência. Lutero uma vez disse que “os irregenerados podem entender a gramática de Jo 3.16, mas não agem em decorrência dos atos ali descritos. É nesse sentido que são incapazes de conhecer as coisas do Espírito de Deus” [3]. E mesmo o cristão precisará da iluminação do Espírito Santo para interpretar a Bíblia. Em Lucas 24.44,45 Jesus explica e abre o entendimento dos discípulos para compreenderem o que estava escrito nos Profetas e na Lei. Afinal como o Espírito Santo inspirou a sagrada escritura é também o seu verdadeiro expositor. Em seu tempo Charles Spurgeon dizia aos estudantes da Bíblia: “Vocês continuam a ser estudantes desde que saíram do Seminário; porém o seu tutor tem sido o Espírito Santo. Por nenhum outro método nossos espíritos podem aprender a verdade de Deus a não ser pelo ensinamento dado pelo Espírito de Deus. Podemos receber casca e o molde exterior da teologia, mas a real palavra do Senhor em si, vem pelo Espírito Santo, que nos conduz a toda a verdade.”[4]

b) Segundo: A religião que a pessoa professa pode até ajudar, mas também por si só não é suficiente para uma real interpretação da Bíblia. O etíope havia ido a Jerusalém para adorar (At 8.27). Entretanto ao voltar do culto não entendia as escrituras. Participara dos ritos e liturgias, mas não compreendia o conteúdo da palavra divina. Que triste retrato de nossa realidade atual. Muitos nasceram num lar cristão e frequentam uma igreja evangélica, mas isso não garantirá boa exegese bíblica. Milhares de pessoas cantam, choram e se emocionam nas igrejas e a Bíblia continua sendo uma espécie de enigma para elas. No caso do eunuco havia disposição em compreender, e em nossos dias tal motivação anda muito rara. Templos que lotam em congressos e festas são vazios nos cultos de ensino e na escola dominical. A mera profissão de fé e participação dos cultos não garantem a compreensão da santa palavra de Deus. Os saduceus eram religiosos e erraram em não conhecer as escrituras e nem o poder de Deus (Mt 22.23-29); e os fariseus, teologicamente ortodoxos também erraram ao colocar suas tradições acima das escrituras (Mt 15.1-7). A tendência do ser humano em achar que a palavra de Cristo não é suficiente o faz buscar complementos religiosos que corroem a essência da revelação divina e o impedem de compreendê-la da forma correta.

II. O que é necessário para uma interpretação bíblica correta.

Depois de aprendermos o que não devemos fazer no ato da hermenêutica sagrada, vamos aprender o que é necessário fazer a partir do relacionamento entre o evangelista Filipe e o eunuco da rainha de Candace no processo da boa interpretação textual. São cinco verdades fundamentais que o estudante das escrituras não pode esquecer em seu estudo bíblico.
a) No processo da aprendizagem e boa interpretação textual é preciso ter humildade para reconhecer que não se entende tudo que lê e solicitar ajuda. Atos 8.30,31 diz: “E correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes, porventura, o que estás lendo? Ele respondeu: Pois como poderei entender, se alguém não me ensinar? e rogou a Filipe que subisse e com ele se sentasse”. Isso não significa que o eunuco não entendesse nada do que lesse da escritura, mas aquela passagem do profeta Isaias lhe trazia dificuldade de compreensão. Costuma-se dizer que há três tipos de pessoas que erram: as que sabem e não ensinam; as que ensinam e não praticam e as que não sabem e não perguntam. Na igreja há muita gente que não sabe e não procura informar-se devido o orgulho. Muita gente desejam ser um Apolo, pois era homem “poderoso nas escrituras”(At 18.24). Acontece que Apolo aprendeu de Áquila e Priscila, um casal simples e que não tinha a eloquência de Apolo (At 18.26). O problema é que os “Apolos” de hoje acham que sabem tudo, e gabam-se qual Laodicéia: “e de nada tenho falta...” Paulo disse que “Agora conheço em parte” (1Co 13.12b). Já alcançamos um nível mais elevado que o apóstolo e sabemos o todo? Claro que não. Tenhamos mais humildade e aprendamos uns com os outros, principalmente quando o Senhor Jesus disponibilizou mestres na igreja para edificação do corpo de Cristo (Ef 4.11,12). Quantas igrejas com pessoas dotadas de conhecimento da palavra, mas cujos dons não são utilizados por motivos mesquinhos. Calvino assim se expressou: “E devemos manter em mente aqui que não apenas as escrituras foi dada a nós, mas para nos auxiliar são-nos acrescentados intérpretes e mestres. É por isso que o Senhor escolheu Filipe para o eunuco em vez de um anjo.” [5] John Stott dizia que temos três mestres: o Espírito Santo, nós mesmos e a igreja.

b) A verdadeira interpretação faz parte do processo aprendizagem que por sua vez requer tempo e dedicação. A Bíblia afirma que Filipe subiu no carro e assentou-se junto ao etíope (At 8.31b). Filipe demorou-se com o eunuco. Em nosso mundo de corre-corre, a interpretação da Bíblia é comprometida também porque não demoramos na meditação do texto sagrado. Gostamos muito de citar o Salmo 1 quando diz: “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” Porém o versículo seguinte continua “antes tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e noite.” Muita leitura com pouca meditação é semelhante ao muito comer sem uma boa mastigação o que provocará problemas digestivos. Debates frugais e insípidos no facebook trazem mais dúvidas que esclarecimento bíblico e às vezes contribui para separar pessoas que nem chegaram a se conhecer. Por falta de meditação existe muita confusão acerca das doutrinas fundamentais da fé cristã como regeneração, conversão, santificação, justificação, divindade e humanidade de Cristo, santa trindade, disciplina, governo eclesiástico, as ordenanças (ceia e batismo) dentre outras. Não devemos esquecer o que o Senhor disse para Josué, substituto de Moisés: “Não se aparte da tua boca o livro desta lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido”. (Js 1.8). O maratonismo bíblico e a pressa em simplesmente ler quantidade “x” de capítulos durante o ano ou memorizar versículos para citação durante o culto de Santa Ceia não garante verdadeira interpretação. É preciso passar tempo com a palavra de Deus, e claro na dependência do Senhor da palavra. E isso significa também disciplina e boa administração do tempo. Participar de estudos bíblicos, escola dominical, diálogos com irmãos sobre doutrinas bíblicas, leitura diário da sagrada escritura e boa literatura cristã fará você crescer “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. (1Pd 3.18) O Eunuco lia um manuscrito e não era fácil possuir um na época. Se possível tenha sua própria biblioteca em casa e leia bastante. Devemos fazer todo o esforço que estiver ao nosso alcance para melhorar nosso conhecimento da palavra do Senhor.

c) Em terceiro lugar: para a interpretação correta das escrituras é necessário à disposição de aprender. Um amigo disse-me certa vez que a regra áurea da hermenêutica era um coração disposto em obedecer a Deus. E claro um coração assim é porque Deus já operou nele. O etíope indagou a Felipe: “Rogo-te, de quem diz isto o profeta? de si mesmo, ou de algum outro?” (At 8.34b) Havia desejo no coração do eunuco em entender a palavra de Deus. Alguém poderá dizer que a pergunta do etíope é sem sentido, afinal o texto fala claramente sobre Cristo. Porém muitos mestres judeus interpretavam o capítulo 53 de Isaias como referindo-se a Israel e não ao Messias. Mas tal interpretação é equivocada, pois existem três razões que tornam impossível entender o servo sofredor referindo-se aos descendentes de Jacó e não a Cristo. 1) O Messias seria sem pecado e Israel não poderia aplicar isso pra si (53.9); 2) O Messias era um cordeiro que submete-se sem resistência o que Israel jamais fez (53.7); e 3) Ele morre no lugar dos transgressores e Israel nunca procedeu dessa forma (53.11,12). Em meio a isso era natural que o eunuco, um prosélito do judaísmo, desejasse compreender a real identidade do personagem anunciado pelo profeta. Estamos lendo a bíblia com esse mesmo interesse? Se por um lado a bíblia mostra Filipe correndo para encontrar-se com o eunuco, por outro vemos o eunuco disposto a aprender de Filipe. Em situações assim a interpretação correta das escrituras acontecerá no processo de ensino aprendizagem onde aluno e mestre se disponibilizam para juntos entenderem a palavra de Deus. Leia Sl 51.17;Tg 4.6-10.

d) Em quarto lugar: a interpretação correta da Bíblia dependerá da própria Bíblia. O texto bíblico diz que “Filipe tomou a palavra e, começando por esta escritura, anunciou-lhe a Jesus”. (At 8.35). Wil Malgo dizia que a Bíblia fornece comentário para a própria Bíblia. Felipe começou no profeta Isaias e mostrou pelo restante das escrituras a real interpretação do texto. Paulo recomenda em 1Co 2.13 “...comparando coisas espirituais com espirituais”. E o maior exemplo que devemos interpretar a Bíblia pela Bíblia é do mestre por excelência – Jesus. Lucas 24. 27 diz: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicou-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”. A regra do contexto é fundamentalmente indispensável. Jesus a empregou na tentação no deserto (Mt 4.7). Todas as seitas e heresias falham nesse princípio básico de interpretação bíblica. Costuma-se dizer que texto fora de contexto gera pretexto. Faltava para o eunuco o senso de uma visão geral da escritura para que ele então contemplasse o Cristo prometido.

e) E por último a verdadeira interpretação da Bíblia levará o estudante à aplicação prática da verdade compreendida em sua vida pessoal. Muitos seminários teológicos sob a ótica da sociologia estudam a teologia simplesmente para um preparo e apresentação de monografias e trabalhos filosóficos a fim de adquirir um título acadêmico. Não há nenhuma preocupação em conhecer o plano de salvação e nem usufruir de uma vida cristã piedosa. O eunuco aplicou a verdade das escrituras a sua vida. “E indo eles caminhando, chegaram a um lugar onde havia água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Felipe: é lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e Filipe o batizou”. (At 8.36-38). É possível interpretamos bem certas passagens das escrituras e vivermos longe do padrão da palavra. Se agirmos assim, entenderemos a doutrina correta e teremos a vida errada. Um retrato dos fariseus. Jesus usou uma única palavra para definir essa atitude - hipocrisia. O eunuco entendeu que Jesus era o filho de Deus e portanto o salvador dos pecadores. Ele ordena que a carruagem pare e ali mesmo Filipe o batiza em cumprimento da ordenança estabelecida pelo próprio Cristo. No fim o evangelista Felipe é arrebatado pelo Espírito Santo para outra região; enquanto o eunuco seguiu seu caminho cheio de alegria.“Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.” (Jo 6.37)

Referências Bibliográficas
[1] OLSON, N.Lawrence. O Plano Divino Através dos Séculos. 19ª. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1998. p.13
[2] MACARTHUR, John. Princípios para uma cosmovisão cristã. 1 ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003. p 49,50
[3] ZUCK, Roy B. A Interpretação Bíblica. 1 ed. São Paulo: Vida Nova, 1994. p 24
[4] SPURGEON, C.H. Nosso Manifesto. São Paulo: PES, p 13
[5] STOTT, John. Entenda a Bíblia. 1 ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2005 p 220



OS DONS MINISTERIAIS DE CRISTO

Por Gildo Gomes

Dons são capacidades que Deus concede ao ser humano para a glória divina e edificação das próprias pessoas, sejam eles dons naturais, espirituais ou ministeriais. No presente artigo não vamos abordar os dons naturais que são obras da graça comum nos seres humanos como uma bela voz para cantar, tocar algum instrumento, pintar, desenhar e outros; e nem dissertarei sobre os dons espirituais. Esses ficam para um próximo post. Nosso foco aqui é entender na sagrada escritura os dons ministeriais, assunto esse que às vezes causa confusão no meio cristão, principalmente entre os chamados pentecostais*.
Existem na Bíblia várias listas de dons espirituais concedidos por Deus ao seu povo como capacitações para o exercício do trabalho do Senhor aqui na terra. Em 1 Co 12.4-11 temos Os dons do Espírito Santo; em Rm 12.3-8 temos outros  dons mencionados pelo apóstolo Paulo para edificação do corpo de Cristo e ainda tem-se os dons ministeriais citados em Efésios 4.11, objeto do presente estudo. Pela construção textual de Efésios 4.11 são quatro e não cinco como costumeiramente se afirma. Lá Paulo diz: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolo, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres.” Como percebe-se temos apóstolos, profetas, evangelistas e pastores-mestres. O fato de alguns estudiosos entenderem que são cinco e não quatro fez alguns cristãos compararem os dons ministeriais com os cincos dedos da mão, porém mesmo que essa totalidade correspondesse a realidade textual de Efésios 4.11 ainda assim a comparação com os dedos da mão não ajuda e nem esclarece biblicamente o exercício dos dons ministeriais no seio  da igreja. Os dons devem ser explicados à luz da Bíblia e não com uma mera comparação de certos aspectos subjetivos de cada dedo da mão. Mas a razão de muitos estudiosos entenderam que se trata de quatro e não cinco dons ministeriais é pela ausência do pronome “outros” entre pastores e mestres. A interpretação coerente é que pastores e mestres na verdade significa pastores-mestres, ou seja, um dom com duas características que é pastorear (cuidar do rebanho) e ensinar(alimentar o rebanho). Essa compressão é defendida por interpretes de várias vertentes teológicas como Wayne Gruden[1]; John Macarthur[2]; Louis Berkhof[3]; e Stanley Horton[4]. 

Inicialmente é importante saber que os dons ministeriais de Efésios 4.11 são diferentes daquilo que chamamos de ordenação ministerial quando a igreja reunida reconhece alguém ao exercício do presbiterato ou diaconato. O quadro a seguir estabelece as diferenças bíblicas e práticas entre dom e ordenação ministerial. 
1 I. DIFERENÇAS ENTRE DOM MINISTERIAL E ORDENAÇÃO MINISTERIAL (ECLESIÁSTICA)
Dom Ministerial (Dádivas)
Ordenação Ministerial (Ofícios)
·         Dado por Deus 1Co 12.28
·         Reconhecido pela Igreja 1Tm 4.14
·         Não há cerimônia. A bíblia fala de Felipe, o evangelista. At 21.8
·         Há uma cerimônia pública. A bíblia fala de Felipe, um dos sete (diáconos), At 6.3-6
·         São quatro/cinco, Ef 4.11
·         São apenas dois Fp 1.1;1Tm 3.1-13
·         Não há qualificações expressas na Bíblia para o recebimento do dom, Ef 4.7
·         Há qualificações expressas na Bíblia para o exercício do ofício, 1Tm 3.1-13

Explicando melhor podemos afirmar que numa igreja sem visão bíblica podemos ter um irmão com o dom do socorro (1Co 12.28) sem o ofício de diácono ou com o ofício de diácono sem o dom do socorro. E ainda podemos ter um membro com o dom de pastor sem o ofício de presbítero ou um presbítero sem o dom de pastor. No primeiro caso Deus capacitou e a igreja não reconheceu e no segundo caso a igreja elegeu a quem Deus não capacitou. Isso não significa que aquela frase tão citada pelos evangélicos hoje como se fosse um texto bíblico: “Deus não chama os capacitados, mas capacita os escolhidos,” seja verdadeira. Pelo contrário, essa expressão aparentemente cristã reformada e usada no momento da ordenação de alguém por muitos arminianos não confessos, esconde uma presunção de uma humildade exaltada. Afinal o que significa um “capacitado” e “escolhido” no enunciado? Por exemplo, Paulo aos 21 anos já possuía o equivalente a dois PhD, portanto altamente capacitado e mesmo assim o Senhor o escolheu e o capacitou ao apostolado. Na verdade todas as pessoas soberanamente chamadas pelo Senhor sejam humanamente capacitadas ou não, são por ele treinadas e capacitadas ao santo serviço. A obra é de Deus e é Ele quem chama e capacita os escolhidos. O Senhor não chamará alguém pelo fato de ter apenas o ensino fundamental, por exemplo e rejeitará outro pela simples questão de ser um pós-graduado.
2     OS DONS MINISTERIAS DE EFÉSIOS 4.11
Os dons ministeriais são capacitações dadas por Cristo a alguns membros do seu corpo para o exercício de certas funções que glorificam ao Senhor e edificam  a fé da comunidade cristã. O contexto de efésios 4.11 mostra que assim como os generais da antiguidade dividiam seus despojos conquistados com seus soldados, após as vitórias nas batalhas, semelhantemente Cristo triunfou sobre os poderes das trevas, distribuiu dádivas (dons) aos servos por ele chamados. Apesar da passagem bíblica de efésios ser ligeiramente diferente de Salmo 68.18, o conceito principal é o mesmo. Afinal os servos de Deus tantos são presentes do Pai ao seu filho Jesus como destaca o salmo quanto eles mesmo se tornam presentes do filho de Deus dados a sua igreja para edificação do corpo de Cristo destacado no texto paulino aos efésios. Como já dissemos dons são diferentes de ofícios, pois se não fosse assim ainda hoje a igreja reunida aprovaria e realizaria imposição de mãos para apóstolos, profetas e mestres, tal como acontece com os ofícios de diácono e presbítero, e é claro, há denominações que realizam equivocadamente essa cerimônia também para evangelistas.
   1. Apóstolos: “Alguém enviado com uma comissão”. Jesus tinha muitos discípulos, mas escolheu apenas doze apóstolos. Os apóstolos davam testemunho da ressurreição de Jesus e eram homens que haviam andado com Cristo Jesus (1Co 9.1,2). Como apóstolos eram escolhidos pelo Senhor e não pela igreja, então a vaga de Judas foi preenchida por Paulo, escolhido pelo Senhor (At 9.4-6) e não Matias, escolhido por Pedro e a congregação de irmãos antes do Pentecostes (At 1.15-25). O texto de Atos 1 sobre a escolha de Matias é descritivo e não prescritivo e em nenhum momento temos a aprovação do Senhor no processo eletivo da congregação reunida em Jerusalém. Pedro cita o texto de Salmos, uma oração é feita e até a sorte foi lançada, mas o Senhor permaneceu em silêncio todo o tempo.  Mesmo que se use a expressão os doze antes de Paulo conforme At 6.2, a expressão doze era  usada até mesmo depois da morte de Judas e antes da escolha de Matias conforme 1 Co 15.5. Os apóstolos lançaram o fundamento da igreja (Ef 2.10) e depois do alicerce lançado não há mais necessidade de apóstolos. Em apocalipse fala-se sobre os doze fundamentos do muro da cidade que são os nomes dos doze apóstolos (Ap 21.14). Outros na Bíblia foram chamados de apóstolos por que assim foram considerados pela  igreja por causa de seu trabalho e não porque o Senhor os escolheu como apóstolos (At 14.14; Gl 1.19)
     A Bíblia fala de doze Apóstolos do Cordeiro, escolhidos pelo Senhor Jesus e se Paulo não for o 12º apóstolo, então ele estará de fora no julgamento das nações que será realizado pelos doze apóstolos do Senhor (Mt 19.28). É verdade que a teologia reformada ao longo da história afirma que a vaga de Judas foi preenchida por Matias, mas isso não significa que não haja dúvidas ou rejeição por parte de alguns teólogos reformados nessa questão. O anglicano J. I. Packer parece deixar o assunto em aberto[5]. Já Campbell Morgan, o antecessor de Lloyd-Jones, dizia que “a eleição de Matias foi errada... Ele era um homem bom, mas o homem errado para a posição... Não me disponho a omitir Paulo dos doze, pois creio que ele era o homem de Deus para preencher a vaga”[6]. Outro que defendia claramente a posição de Paulo como o 12º apóstolo era o presbiteriano, pastor Mario Neves no seu comentário de Atos dos Apóstolos, escrito em fevereiro de 1944 e publicado em março de 1953[7]. E caso o apóstolo Paulo não seja do grupo dos doze não dar para entender porque seu apostolado era tão atacado e ele reiteradamente tinha que defendê-lo (1Co 1.1; 2Co 10 e 11; Gl 1.1; Ef 1.1). 

2   2. Profetas: Não se refere ao dom de profecia, mas aqueles que tinham a mesma autoridade dos apóstolos e junto com eles lançaram os fundamentos da igreja (Ef 2.20). Também não se refere aos profetas do AT como dizem alguns comentaristas. Basta para isso comparar a ordem de Efésios 2.20 com I Pedro 3.2 e percebe-se facilmente que a expressão “apóstolos e profetas” é invertida. E no contexto da epístola aos Efésios o apóstolo Paulo  fala que “agora foi revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas”(Ef 3.5). O advérbio agora refere-se aos apóstolos e profetas do Novo Testamento e não do Antigo Testamento, até porque a revelação da introdução dos gentios na família cristã não fora revelada aos profetas veterotestamentários. Pode-se entender ainda que homens como Marcos, Lucas, o autor aos Hebreus, o autor do livro de Tiago e Judas autor da epístola que leva seu nome, foram profetas com a mesma autoridade apostólica e por isso seus escritos são inspirados, canônicos. Além desses profetas escritores do NT, certamente a igreja primitiva teve também profetas orais como em At 15.32. Assim como no AT tivemos profetas clássicos (escritores) como Moisés e Jeremias, e também profetas orais que não escreveram seus pronunciamentos como Elias e Eliseu, acredito que no NT também aparece a mesma compreensão teológica. E para facilitar ainda mais o entendimento sobre as diferenças entre o dom ministerial de profeta que cessou e o dom de profecia que continua um pequeno quadro comparativo sobre os dois ajuda no estabelecimento das diferenças.
2.2.    II. DIFERENÇA ENTRE O DOM MINISTERIAL DE PROFETA E O DOM DA PROFECIA NO NOVO TESTAMENTO
Dom Ministerial de Profeta
Dom de Profecia
·         Restritivo: “Ele deu uns para... profetas” Ef 4.11
·         Abrangente: “Todos podeis profetizar” 1Co 14.31
·         Autoridade igual a dos apóstolos Ef 2.20
·         Autoridade inferior aos dos apóstolos 1Co 14.36-38
·         Revelação dos mistérios de Cristo Ef 3.4,5,6
·         Revelação dos segredos dos coração 1Co 14.24,25
·         Cessaram assim como os apóstolos, Ef 2.20
·         Presentes até a vinda de Cristo, 1Co 1.7

3  3. Evangelistas: “Portadores de boas novas” (Rm 10.15). Embora todos devamos evangelizar não significa que todos temos o dom de evangelista (2Tm 4.5). Felipe era um evangelista (At 21.8) e sua habilidade (dom) em evangelizar é vista na sua evangelização do eunuco em Atos 8.26-40. Mas apesar de vermos no livro de Atos uma cerimônia pública com a imposição de mãos aos sete diáconos e entre eles, Filipe; não vemos em lugar nenhum uma imposição de mãos para a ordenação de Filipe a evangelista como acontece hoje em certas igrejas. É portanto antibíblico denominações protestantes ordenarem membros a evangelistas como intermediários entre presbíteros e pastores. Além de não exercerem uma real função de evangelização, adquiriram ministerialmente um título acima dos presbíteros que na Bíblia são os supervisores da congregação. Hoje evangelista (consagrado ou autorizado) em certas denominações tornou-se mero título de ostentação no lugar do serviço de testemunhar sobre a pessoa de Cristo. E sem contar que assim como as igrejas que ordenam evangelistas com base em Efésios 4.11 também deveriam pelo mesmo critério ordenar profetas e mestres com base na mesma passagem bíblica, até porque algumas igrejas acreditam que o ministério de profeta não cessou.

4.   4. Pastores e Mestres: Como já disse o termo “outros” não aparece entre pastores e mestres o que nos leva a acreditar que se trata de pastores-mestres. É um dom com dupla função. Pastor realça o cuidado com as ovelhas e mestre refere-se ao ensino (alimento) da palavra ministrada aos crentes. Claro que alguém pode ter o dom do ensino sem o dom de pastor-mestre (Rm 12.7), mas o dom de pastor sempre envolverá o de mestre e por isso será um pastor-mestre. Nas qualificações para o ofício de presbítero é exigido que o mesmo seja “apto para o ensino” (1 Tm 3.2). Há presbíteros que governam bem a igreja e não ensinam e por isso não pode ser chamado de pastor-mestre. Com base em 1Tm 5.17 a teologia reformada diferencia os presbíteros docentes dos regentes no sentido que todos regem a comunidade cristã (governam), mas nem todos exercem a docência (ensino) aos cristãos. Certamente quando Atos 13.1 menciona os mestres da igreja de Antioquia refere-se aos seus pastores. Sabemos que Deus concedeu e concede dons a sua igreja, sejam espirituais ou ministeriais e a igreja reconhece certos dons na realização pública de cerimônias para o exercício dos ofícios de presbíteros e diáconos. Dos dons ministeriais citados em Efésios 4.11 dois deles cessaram: apóstolos e profetas porque envolvem o fundamento da igreja que foi posto definitivamente. Diferente do dom da profecia que continua até a vinda do Senhor, o dom ministerial de profeta, semelhante aos apóstolos cessou com o fechamento do cânon. Afinal apóstolos e profetas são citados em Efésios 3.20 como parte do fundamento. Os outros dons que são evangelistas e pastores-mestres ainda são concedidos porque envolve o trabalho de edificação (construção) da igreja sobre o fundamento que já foi posto pelo Senhor. Aqueles que discordam dessa interpretação alegam que Efésios 4.12,13 afirma que os dons de Cristo são para o aperfeiçoamento dos santos e “até que cheguemos à unidade da fé no pleno conhecimento do filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.” E isso só reforça o fato que essa unidade e maturidade é alcançada porque os dons ministeriais fundacionais (apóstolos e profetas) e os dons ministeriais edificacionais (evangelistas e pastores-mestres) foram dados pelo Senhor. 

Notas
*Não me denomino pentecostal porém não tenho nada contra quem assim me classifica até porque creio na atualidade dos dons. Apenas considero o termo pentecostal inadequado para referir-se a continuidade dos dons espirituais. No livro de Atos os discípulos não eram chamados de pentecostais. E caso o Espírito Santo tivesse descido no período da páscoa os discípulos nem por isso seriam chamados de pascoais, igualmente o fato do Espírito descer na festa do pentecostes não justifica o uso do termo pentecostal aos seguidores de Cristo. Como cessacionistas são aqueles que restringem a operação dos dons ao período apostólico, principalmente o batismo no Espírito Santo, então não cessacionista é um termo teologicamente preferível e mais adequado aqueles que como nós creem nos dons espirituais.
Referências Bibliográficas

[1] GRUDEM, Weyne. O dom de Profecia. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 2004. p 427
[2] MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo Macarthur. 1 ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010. p 1606
[3]. BERKHOF, Louis. Teologia Siatemática. 1 ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1990. p 539
[4] HORTON, MENZIES, Stanley, William. Doutrinas Bíblias, uma perspectiva pentecostal. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p 191.
[5] PACKER. J.I. Teologia Concisa. 1 ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999, p 184,185
[6] STTOT, John. A Mensagem de Atos até os confins da terra. 1 ed. São Paulo: ABU 1994, p  58,59
[7] NEVES, Mário. Atos dos Apóstolos. 1 ed. São Paulo: Casa editora presbiteriana, 1953 p 40,41.




AUXÍLIO TEOLÓGICO AOS ESTUDANTES DA ESCATOLOGIA BÍBLICA

Por Gildo Gomes


I.              DEFINIÇÃO DA ESCATOLOGIA BÍBLICA

Escatologia(do gr. “Escathos”, última coisas + “logia”, discurso racional), é um ramo da teologia que estuda de maneira lógica e sistemática a doutrina das últimas coisas fundamentada nas sagradas escrituras. É um estudo onde existe uma certa concordância em discordar devido as múltiplas e possíveis interpretação ante os símbolos e figuras presentes no texto profético. No estudo bíblico é didaticamente recomendável que uma pessoa que começa a estudar a escritura não inicie por livros como Daniel, Ezequiel, Zacarias ou Apocalipse, por exemplo. Nesse caso é fundamental que o iniciante compreenda primeiro os fundamentos da fé cristão e depois então possa estudar os assuntos escatológicos. Aqui vai uma visão geral e sintética do assunto para ajudar a quem deseja proceder melhor no estudo das profecias bíblicas.

II. ENTENDENDA OS SISTEMAS DE ESTUDO DA PROFECIA.
Em certo sentido o sistema que o estudante de profecia adota determinará suas conclusões escatológicas. Os principais sistemas de interpretação escatológica são os seguintes:

a)    O PRETERISMO (passado) acredita que a maioria ou todas as profecias já se cumpriram, principalmente em relação à destruição de Jerusalém em 70 d.C. É uma interpretação equivocada de Mateus capítulo 24.

b)   O HISTORICISMO (presente) afirma que as profecias já foram e serão cumpridas durante a era da igreja. Em outras palavras o período da igreja é o tempo da grande tribulação.

c)    O IDEALISMO (atemporal). Esse sistema de interpretação das profecias é também chamado de simbolista e não vê no estudo profético nada de histórico e que portanto os eventos não podem ser determinados antecipadamente. O objetivo das profecias nesse método é apenas ensinar o conflito entre o bem e o mal e a derrota final do mal. É uma espécie de O Senhor dos Anéis de J.R.R Tolkien

d)   O FUTURISMO (futuro) acredita que as profecias se cumprirão na segunda vinda de Jesus e no milênio. George Ladd divide os futuristas em dispensacionalistas e moderados e claro que ao identificar-se como moderado ele denomina os dispensacionalistas de extremos o que não é verdade [2] A questão é que o futurista dispensacionalista diferencia a Igreja de Israel e que Israel passará pela grande tribulação, mas a igreja será livre desse tempo de dor. O sistema moderado não faz tal diferença e diz que o povo de Deus (Igreja) sofrerá a grande tribulação. É verdade que o sistema dispensacionalista pre-milenista é mais seguido pelos arminianos, mas não significa dizer que todo reformado desconsidere o dispensacionalismo. Exemplo disso, é o livro “A Segunda Vinda de Jesus”, lançado no Brasil em 2009, pelo teólogo John Macarthur, um reformado que defende o pré-milenismo pré-tribulacionista ao afirma que a igreja será livre da grande tribulação.[1]

Gráfico Sintético dos Sistemas de Estudo Profético [2]




            Além desses métodos ou sistemas de interpretação da profecia bíblica citados anteriormente a visão que o estudante tiver sobre o milênio de apocalipse 20.1-10 conduzirá a conclusões bem diferentes. Não custa lembrar que o amilenismo descreve a presente era da igreja como o milênio que no caso não são mil anos literais. O pós-milenismo similar ao amilenismo entende os mil anos como figurado e acredita que Cristo voltará após o milênio depois de avanços mundiais pela pregação do evangelho e do crescimento da igreja. Já o pré-milenismo divide-se em histórico e dispensacionalistao onde ambos acreditam que Cristo voltará antes do milênio com a diferença que o primeiro diz que a igreja passará pela grande tribulação e o segundo que a mesma será tirada antes desse acontecimento.

AS DIFERENÇAS DOS QUATROS SISTEMAS DE INTERPRETAÇÃO DO MILÊNIO [3]

Claro que de alguma forma nos beneficiamos de certos aspectos de cada sistema citado, mas isso não significa que adotaremos um ecletismo gerador de incertezas e confusão. Acredito que o sistema interpretativo que mais honra as escrituras é o futurista pré-milenista dispensacionalista.


III. AVANCE NO ESTUDO DA PROFECIA APESAR DAS DIFICULDADES

            Há vários motivos que dificultam o estudo da escatologia bíblica. Não devemos ignorá-los, mas nem por isso são razões para o desprezo da escatologia. Estudar apenas os primeiros capítulos do livro de apocalipse e não ir além do capítulo 4 não é solução e nem correto, pois a própria palavra diz “que toda escritura e inspirada e proveitosa...”, e isso, claro inclui o livro de apocalipse completo. A consciência das dificuldades exegéticas é algo positivo e não negativo, pois tornam-nos prudentes ao  navegarmos por águas profundas sem nos aventurarmos na viagem. Geralmente são três as razões dessas dificuldades enfrentadas por estudantes da profecia e que às vezes fazem alguns até desistirem. Mais uma vez a desistência não é a solução.

a)    Ausência de estudo bíblico sistemático e metódico da doutrina bíblica na igreja. At 20. 20,27,31;  2Tm 2.2; Tt 1.9; 2.7. Entenda não é a falta de ensino sobre escatologia em si, falta sim, ensino sobre as doutrinas básicas da fé cristã como trindade, divindade de Jesus, eleição, fé, arrependimento, regeneração, justificação e outras, sem as quais é praticamente impossível ter uma compreensão clara da escatologia, deixando o estudo infrutífero e sem proveito. Em outras palavras, para quem tem sérias dificuldades no estudo da doutrina do final dos tempos, a recomendação é que reavalie o seu entendimento das doutrinas da salvação e da vida cristã.

b)    A linguagem na literatura apocalíptica é simbólica e deixa muitas vezes dúvidas quanto a real interpretação. Até hoje muitos estudiosos detêm-se pouco nos livros proféticos como Daniel e Apocalipse. Lutero também fugiu dos ensinos de Apocalipse por muitos anos. João Calvino recusou-se escrever um comentário sobre o Apocalipse de João. Mas não é de admirar, todos temos dificuldades nas doutrinas escatológicas. Só os bobos ouçam pisar apressadamente onde os anjos temem. Uma simples leitura de Ap 17. 9-11 prova que não é fácil como dizem os desavisados estudar a profecia bíblica. Mas isso não deve nos incomodar, afinal de contas, parece que até João Batista, o maior dos profetas, também não entendia bem a palavra profética (Mt 11.2-6,11; Is 9 e 11; Jr 33; comp. Is 61.1,2 e Lc 4. 18,19).

c)    Muitas heresias surgiram pelo estudo das profecias e isso faz as pessoas ficaram temerosas. A doutrina da “Presença de Cristo” das Testemunhas de Jeová é um estudo equivocado de Dn 4.10-37 e a doutrina do “Juízo Investigativo” dos Adventistas do Sétimo Dia também é um erro do estudo da profecia em Daniel 8.14. Mas infelizmente não foram apenas sectaristas que cometeram esses desvios doutrinários, cristãos sinceros também cometeram. Exemplo disso, foi uma interpretação do fundador da Assembleia de Deus no Brasil, Gunnan Vingren que no jornal Mensageiro da Paz, da 1ª quinzena de abril de 1931 escreveu: “O tempo dos gentios está para se findar. Este tempo é calculado em 2.520 anos proféticos, ou seja, sete tempos de 360 anos anos cada um” [4]. Claro que Vingren refere-se a Dn 4.23 e faz uma exegese ruim similar as Testemunhas de Jeová, embora não tivesse nada a ver com elas.  Porém, mais uma vez, isso serve de alerta a todos e lembra-nos as palavras do estudioso Van Baalen: “É bem verdade que uma criança pode achar o caminho da salvação por meio de um Evangelho de João: é igualmente verdade que há na Bíblia passagens difíceis cuja interpretação ninguém devia tentar sem ter sólida base de instrução teológica, da mesma forma que ninguém deve estabelecer-se como médico ou advogado sem primeiro ter estudado aquilo que a ciência médica ou a jurisprudência tem encontrado em gerações anteriores”[5].

IV. EVITE O ESTUDO ESPECULATIVO DA PROFECIA NA HISTÓRIA 


            Ainda lembro-me quando era jovem e um preletor num exposição sobre o anticristo usou o cálculo das letras da palavra computer em inglês onde cada uma valeria 6 (seis) e o seu somatório daria então 666. Na época uma jovem da igreja que iria fazer um curso de computação desistiu por causa dessa especulação. E até o pastor acreditou nessa interpretação. Há muitos exemplos dessa prática na literatura de seitas como as Testemunhas de Jeová, os Adventistas do Sétimo Dia e infelizmente na literatura cristã. Um exemplo a mais dessa prática abusiva aconteceu no tempo da derrubada das Torres de World Trade Center em 11 de setembro de 2001 nos EUA. Estudiosos especulativos associaram os dois chifres do carneiro da visão de Daniel 8 com as duas torre gêmeas. Até o bigode do bode foi comparado com a barba do Bin Laden. Esse encaixe que algumas pessoas fazem é subjetivo e às vezes ridículo. Ora, lendo Ap 18.16-19 alguém poderia também alegar o cumprimento no ataque das torres americanas, mas o texto não tem nada a ver. Essa especulação tem sido tão nefasta que chegam ao ponto de marcarem datas para a vinda de Cristo, contrariando assim o ensino do próprio Jesus (Mt 24.36;At 1.6,7)

 V. ESTUDE AS 70 SEMANAS DE DANIEL COMO UMA CHAVE DA PROFECIA (Dn 9 )

01.  As Setenta Semanas de Daniel São Semanas de Anos 

É importante saber que as 70 semanas de Daniel capítulo 9 são de anos e não de dias. Chega-se a essa conclusão devido os eventos mencionados em 9.24 que não se cumpriram ainda sobre Israel. E o versículo 29 diz “E ele fará aliança com muitos por uma semana”. Uma aliança com nações por uma semana de dias é praticamente sem sentido. Na bíblia a expressão “semana de anos” é citada no texto sagrado em várias passagens como Lv 25.8; Nm 14.34; Ez 4.7.

02.  A Divisão das Setenta Semanas em Três Grupos
A própria bíblia faz uma divisão dessas 70 semanas e ao fazê-la percebemos que a última semana não continuou logo após a 69ª semana de anos de maneira que ela começa com 07 e termina com 07 semanas.

           a) O 1º Grupo de Semanas - 7 Semanas ou 49 anos (Dn 7.25)
Existem três decretos que dividem os estudiosos no assunto: o 1º decreto de Ciro em 536 a C. Is 44.28; 45.1-3;ver Ed 1.1-11; o 2º decreto de Artaxerxes em 457 a C., de embelezamento do templo, a cargo de Esdras(Ed 7); o 3º decreto foi baixado em 445 a C. por Artaxerxes Longímano, para a construção dos muros e, portanto da cidade de Jerusalém, a cargo de Neemias(Ne 2.1-8). A partir desse decreto começa a contagem das Setenta Semanas de Daniel. “O reinado de Artaxerxes Longímano começou no ano 465 a.C. e terminou em 425/4 a.C., portanto o ano vigésimo desse rei, do qual Neemias pediu autorização para reconstrução da cidade e seu muro (e recebeu decreto favorável), foi no ano de 445 a.C. Portanto, o templo foi reconstruído do ano 538 a.C. (decreto de Ciro, Ed.1) à 515 a. C.(sexto ano de Dario, Ed.6.15) e a cidade e seu muro deu-se início a reconstrução no ano de 445 a.C. e término no ano 396 a.C. Esses fatos podem ser ligados a Dn. 9.25 que diz: "...desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas: as praças e as circunvalações se reedificarão...". Vejam que, o texto diz "desde a saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém" (deve-se começar daí a contagem das 70 semanas de Daniel”[6]

     b) O 2º Grupo de Semanas – 62 Semanas ou 434 anos ( Dn 9.25,26). Esses 434 anos vão desde 396 até a morte de Cristo. Logo depois ocorreu a destruição de Jerusalém pelos romanos, em 70 d.C. (v.26).

     c) O 3º Grupo – o de uma semana, isto é, de 7 anos (Dn 9.27). Há um intervalo de tempo entre a 69ª e a 70ª semana profética. É uma espécie de parêntese onde Israel rejeita seu Senhor e a Igreja é formada (Mt 10.5-7;Jo 1.11). Durante essa semana se cumprirá o que Jesus disse em João (Jo 5.43). O anticristo fará uma aliança por sete anos e a quebrará no meio da semana (Dn 7..24,25; Ap 11.2,3; 12.6,14; 13.5). Nesse tempo a figura do anticristo será marcante nas decisões políticas, religiosas e econômicas na terra. Seu reinado será de 7 anos como vimos no estudo das 70 semanas de Daniel. Na primeira metade mostrará sua face de cordeiro e na segunda metade mostrará sua face de dragão (Ap 13.11). O espírito do anticristo opera no mundo e ele aparecerá após o rapto da igreja (2Ts 2.7,8).  Os 1.230 dias de Ap 12.6 equivale a 3 ½ anos de 360 dias, ou 42 meses de 30 dias cada (Ap 13..5). Na linguagem profética é o mesmo que dizer um tempo, e tempos e metade de um tempo (Dn 7.25; 12.7; Ap 12.14).  O templo certamente estará construído nessa época (Dn 9.27: Mt 24.15; 2Ts 2.3,4). Se tudo isso está próximo, imagine o arrebatamento da igreja. A brevidade do tempo pode ser percebida nas recomendações opostas dadas a Daniel e ao apóstolo João no Apocalipse. (Dn 12.4 e Ap 22.10)

VI. COMPREENDA O QUE É GRANDE TRIBULAÇÃO

Os cristãos ao longo dos séculos tem experimentado muitas tribulações, ódio, rejeição, privações, perseguições e mortes cruéis por causa de sua fé. Tem sido assim desde o início. E como disse Jesus “no mundo tereis aflições” (Jo 16.33).  Todavia quando a Bíblia fala da grande tribulação refere-se a um período específico e sem igual de sofrimento e dor em toda a terra. Será a manifestação da ira e furor de Deus sobre a impiedade dos homens que rejeitaram sua palavra e se rebelaram contra o seu filho Jesus Cristo antes do julgamento final (Mq 5.15; Is 26.20; 1Ts 1.10; Ap 14.10). É o dia da vingança de Deus(Is 34.8; 61.2) e é o tempo da ferida de Israel (Is 30.26; Os 6.1).  A igreja não passará pela grande tribulação(Is 57.1; Lc 21.36; Ap 3.10). Assim como Enoque foi arrebatado antes do dilúvio, a igreja será arrebatada antes da tribulação; e como Noé passou pelo dilúvio protegido por Deus, Israel sofrerá mas receberá proteção divina no período tribulacional. Em apocalipse 12 temos o dragão perseguindo a mulher que ali simboliza a nação israelita. Dessa forma cremos que Jesus virá uma vez em duas fases – invisível para a igreja antes da tribulação e outra visível com a igreja após a tribulação. Primeiro virá nos ares (1Ts 4.17), antes da tribulação; e depois aparecerá no monte das Oliveiras, depois da tribulação (Zc 12.10). Jesus primeiro virá para sua noiva(igreja, Jo 14.3) e depois com sua noiva (Cl 3.4). A história de José no Egito ilustra bem essa situação, já que enquanto José casou-se com uma mulher gentia e vive com ela num palácio, seus irmãos padecem dificuldades nos anos de fome. A igreja como noiva de Cristo estará nas bodas do cordeiro, enquanto os judeus (irmãos de Jesus) estarão na grande tribulação. 

VII. EVITE A OBSESSÃO SOBRE A IDENTIDADE DO ANTICRISTO

Quem será o anticristo? Essa é uma pergunta que as pessoas fazem com frequência. Somente a identidade das duas testemunhas de apocalipse 11 rivaliza com ela. E sabemos que esse é um assunto disteleológico, ou seja, não fornece em si edificação ou esclarecimento doutrinário importante aos cristãos. Caso alguém queira tentar responder que o faça, mas sem considera-lo como tema essencial para a interpretação da escatologia. E na tentativa de respondê-la é preciso entender os reinos do mundo na palavra profética, ou o tempo dos gentios como disse Jesus (Lc 21.24). Com a chamada de Abraão Deus formou um povo (judeus) ao qual fez grandes promessas. Em sua desobediência, Deus prometeu dispersa-los ente as nações ( Lv 26.33; Sl 44.11) e assim aconteceu (Lc 21.24; Tg 1.1). Deus também prometeu o retorno de Israel (Dt 30.3;Is 11.11,12). Estamos presenciando tal cumprimento em nossos dias. E em meio a tudo isso, temos o desprezo e o ódio das nações contra Israel.
Apocalipse 13.17 diz três coisas sobre o anticristo: sua marca, seu nome e seu número. As especulações em torno do número 666 são inúmeras e até bizarras como: os antigos substituíam o número 666 para 661 a fim de identificar o imperador Calígula como o anticristo; o uso do cálculo de Richard Thomas (EUA), com cada letra do alfabeto valendo 6 e a palavra computer (computador em inglês, daria 666);  o uso do título VIGARIVS FILLI DEI como título do papa equivalendo 666 e muitas outras coisas tipo o código da internet WWW, onde convertem o W em número romano VI=6; VI VI VI = 6 6 6. O computador seria o sinal da besta, na testa (com o monitor) e na mão (com o mouse). Outros ainda citam a frase “Viva, Viva, Viva a Sociedade Alternativa”, da música do falecido roqueiro Raul Seixas, onde transformaram a sílaba VI em algarismo romano VI = 6. Então o VIva VIva VIva, virou 6 6 6. Outra música citada é a da rainha dos baixinhos, Xuxa, “Marquei um X, um X, um X no seu coração”. Nesse caso a letra X pronunciada em português seria XIS, lendo de trás para frente vira SIX que em inglês é 6. Então SIX,SIX,SIX = 666. Tudo especulações sem qualquer relação com a Bíblia.

VIII. AO LER APOCALIPSE 13 NÃO SE ESQUEÇA DA ESTÁTUA DO SONHO DE NABUCODONOSOR EM DANIEL 2 E DA VISÃO DOS ANIMAIS DE DANIEL 7


 O sonho da estátua de Nabucodonosor(Daniel 2) continua na visão de Daniel no capítulo 7. Os impérios que antes foram representados por uma imagem com cabeça de ouro, o peito de prata, o ventre de bronze, as pernas de ferro e os pés em parte de ferro e em parte de barro, agora são representados por animais: leão, urso, leopardo e um animal espantoso e terrível.

E afinal o que diz a Bíblia sobre o anticristo? Afirma que ele será a ponta pequena de Dn 8. 9 que reinará após as 10 pontas do 4º animal (Dn 7. 8, 20, 24), que corresponde aos dez dedos da estátua do sonho de Nabucodonosor(Dn 2.41-45). Em apocalipse a besta que subia do mar (ver o significado de águas/mar na profecia em Dn 7.2 e Ap 17.15), tinha dez chifres(os dez dedos no sonho de Nabucodonosor / os dez chifres do quarto animal de Daniel 7-Roma) semelhante ao leopardo(o ventre e os quadris de bronze no sonho de Nabucodonosor e o terceiro animal na visão de Daniel 7 – Grécia), pés de urso(o peito e os braços de prata no sonho de Nabucodonosor e o segundo animal na visão de Daniel 7 – Medo-Pérsia) e boca de leão ( a cabeça de ouro no sonho de Nabucodonosor e o primeiro animal na visão de Daniel 7- Babilônia). O anticristo portanto será a aglutinação de todo sistema anticristão que surgiu na história dos impérios da humanidade desde Babilônia até Roma que por sua vez influenciam nossos dias. Toda idolatria, imoralidade e espiritismo começou em Babel (Babilônia) com Ninrode em Gênesis 11. Em apocalipse 17 vemos a mulher (Babilônia/Roma) assentada sobre muitas águas (povos). Está montada sobre uma besta escarlate de sete cabeças e dez chifres. Roma era a única cidade da antiguidade edificada sobre sete montes.

IX. PERCEBA A SEQÜÊNCIA COERENTE DOS ACONTECIMENTOS ESCATOLÓGICOS 

Na visão dispensacionalista pré-milenista e pré-tribulacionista da escatologia apresentamos a seguir a sequência mais coerente dos acontecimentos do fim, dizemos mais porque os pré-milenistas pós-tribulacionistas e os amilenistas terão outra interpretação e consequentemente outra sequência.
1) O Arrebatamento da Igreja(Parousia)(1Co 15.51,52; 1Ts 4.14-16)
2) O comparecimento dos Crentes no Tribunal de Cristo(Bema). Bodas do cordeiro no céu e tribulação na terra. (Rm 14.10-12; 1Co 5.10)
3) A Batalha do Armagedom( Ap 19)
4) Manifestação de Cristo em glória com os santos e anjos(Epifanéia) (Ap 1.7)
5) Julgamento das nações(Mt 25.31-46)
6) Prisão de Satanás por mil anos.(Ap 20.1-3)
7) Inauguração do reino milenar de Cristo na terra (Ap 20. 4)
8) Soltura de Satanás por um breve espaço de tempo, e logo depois será preso.(Ap 20.7-10)
9) Juízo do trono branco (Ap 20. 11-15)
10) Estabelecimento do novo céu e nova terra(Ap 21.1-4). É o chamado perfeito estado eterno. Para nós é o futuro do futuro do futuro sem fim. Algo semelhante ao final da história das Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis: “...Para nós este é o fim de todas as histórias, e podemos dizer com absoluta certeza, que todos viveram felizes para sempre. Para eles, porém, este foi apenas o começo da verdadeira história. Toda a vida deles neste mundo e todas as sua aventuras em Nárnia haviam sido apenas a capa e a primeira página do livro. Agora, finalmente, estava começando o Capítulo Um da Grande História que ninguém na terra jamais leu: a história que continua eternamente e na qual cada capítulo é muito melhor que o anterior.” [6]


Referências Bibliográficas

[1] MACARTHUR, John Jr. A Segunda Vinda de Jesus. 1 ed. Rio  de Janeiro: CPAD, 2008. p 87,88
[2] ICE, DEMY, Thomas e Timoty. A verdade sobre o ano 2000 e as Previsões da Volta de Cristo. 1 ed. Porto Alegre: Actual Edições, 1999. p 31.
[3]ANTÔNIO, Leandro de Lima. Razão da Esperança Teologia para Hoje. 1 ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006. p 600, 601
[3] ELDON, George Ladd. Apocalipse introdução e Comentário. 1 ed. São Paulo: edições Vida Nova e editora Mundo Cristão, 1980, p 12.
[4] VINGREN, Gunnan. O Senhor Vem! Artigos Históricos do Mensageiro da Paz, 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004. p 85.  Publicado na 1ª quinzena de abril de 1931.
[5] KAREL, Jan Van Baalen. O Caos das Seitas. 1 ed. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1970, p 148
[6] site do Cacp – Centro Apologético Cristão de Pesquisa, www.cacp.org.br
[7] LEWIS, C.S. As Crônicas de Nárnia, Vol. VII, A última batalha. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p 289.


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